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A região Sul do país tradicionalmente sempre se destacou pela produção de trigo no Brasil, principalmente pelo clima ameno favorável à cultura. No entanto, as constantes mudanças climáticas e invernos atípicos nos estados do Sul, atrelado ao aumento do custo de produção e um mercado não muito favorável aos produtores, fez com que a área destinada à cultura se mantivesse constante ao longo dos últimos anos e até mesmo reduzida se compararmos a área cultivada da década de 70 até início de 90. O que se observa é o aumento da produtividade da cultura em função dos avanços tecnológicos e em pesquisas. Porém, toda esta melhoria não tem sido suficiente para superar as incertezas climáticas e de mercado e assim fomentar um aumento de área destinada ao cereal no país.

Para o Doutor em Agronomia e Coordenador Técnico de Pesquisa em Entomologia do Instituto Phytus – Rio Grande do Sul, Juliano Farias, em função do efeito climático El Niño, com muitas chuvas, a incidência de percevejos e lagartas na fase final da safra deste ano poderá ser significativa. “O monitoramento e o correto manejo de pragas serão bem importantes neste ano, em particular, inclusive no manejo pós-trigo, para que não ocorram maiores danos na fase inicial da próxima cultura”.

Nas regiões do Cerrado, principalmente no Centro-Oeste do Brasil, a cultura do trigo tem se destacado pela alta tecnologia empregada nos cultivos irrigados na época da seca que ocorre no inverno De acordo com o Mestre em Agronomia e Coordenador Técnico de Pesquisa em Entomologia do Instituto Phytus – Planaltina, Distrito Federal, Juliano Uebel, no Cerrado brasileiro, o trigo é cultivado em áreas de altitudes mais elevadas e com uso de irrigação. O cereal, já com cultivares adaptadas ao clima mais quente, resultado do melhoramento genético voltado à diminuição da vernalização ou menor exigência em frio de alguns genótipos, tem se mostrado altamente produtivo nas condições de irrigação. “Um pouco diferente do praticado no Sul, o trigo nestas condições é cultivado com altas densidades de plantas por área e uso de reguladores de crescimento para controlar o porte das plantas. É comum encontrar produtividades superiores a 100 sacas/ha em áreas irrigadas de trigo sob pivô central”, complementa.  Segundo o pesquisador, o desafio do cultivo de trigo nas regiões do Cerrado no Brasil se deve principalmente pelo inverno seco, impossibilitando o cultivo sem irrigação, e nas áreas irrigadas, pela competição da cultura do trigo com outras culturas como milho e feijão. “Do ponto de vista fitossanitário não há impedimentos à cultura do trigo nesta região do país, sendo os problemas com pragas e doenças até menores do que ocorre no Sul do país”, afirma. O mercado do trigo na região Centro-Oeste tem sido até mais favorável ao que ocorre no Sul, com preços do grão mais atrativos aos produtores do cereal e menor distância com o mercado consumidor e moinhos. A qualidade superior do grão produzido no Cerrado também é outro ponto positivo à cultura nesta região do país, principalmente por se colher o grão na ausência de chuvas.

Perspectivas de incidência de pragas em trigo

Quanto às pragas que ocorrem na cultura do trigo no Cerrado, Uebel comenta que, em termos gerais, não é muito diferente daquelas que ocorrem no Sul do país, como pulgões, lagartas e percevejos. O pesquisador explica que pragas como corós tem menor importância ao trigo no Cerrado do que em relação ao Sul do país. Lagartas do gênero Pseudaletia (atuam causando desfolha e danos às espigas) e lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) (atuam preferencialmente causando danos às plântulas, seja com hábito de rosca cortando-as junto ao colo, ou mesmo alimentando-se das folhas) têm sido umas das lagartas mais frequentemente encontradas nas lavouras de trigo do Cerrado. Em alguns casos, o curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes) pode também causar desfolha das plantas. Mais recentemente, também tem sido encontradas lagartas de Helicoverpa armigera causando danos às plantas de trigo, consumindo preferencialmente as espigas. Em alguns casos, dependendo das condições (solos mais secos e arenosos) a lagarta-elasmo pode causar danos nos estádios iniciais da cultura. Estas atuam perfurando galerias e penetrando as plantas de trigo junto ao colo das mesmas.

Eventualmente, a larva-alfinete, fase larval do inseto-praga vaquinha ou patriota (Diabrotica speciosa) pode causar dano ao sistema radicular das plantas de trigo.

O monitoramento constante ainda antes da implantação da cultura do trigo fornece subsídios importantes para as tomadas de decisões no que se refere a prevenção e controle de pragas, alerta Uebel. Amostragens prévias, nas culturas vizinhas, na palhada da cultura antecessora e até mesmo por trincheiras no solo dão uma ideia de pragas potenciais à cultura do trigo a ser implantada, principalmente nas fases iniciais da cultura. A dessecação antecipada da cultura antecessora é importante no sentido de interromper o ciclo de algumas pragas e reduzir a população das mesmas. O sistema de cultivo, seja semeadura direta ou não, também pode desfavorecer a ocorrência de alguma praga. O uso de inseticidas via tratamento de sementes é uma medida importante de proteção das plantas de trigo nos estádios iniciais. Após, durante o ciclo da cultura, o controle químico com inseticidas deve ser utilizado com base no resultado do monitoramento das pragas ocorrentes. É importante a escolha correta e o momento da aplicação dos produtos a ser utilizados, para assim evitar desequilíbrios na fauna existe e favorecer uma ou outra praga.

Daiane Köhler/Asimp 

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