Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

O capitalismo tem defeitos? Tem, e muitos. Devemos nos conformar com seus defeitos? Não, não devemos. São essas duas perguntas e suas respostas que levam os autoproclamados “esquerdistas” a aderir ao socialismo, sob o argumento de que, “se o capitalismo tem defeitos e se não devemos nos conformar, então cumpre destruí-lo e substituí-lo por outro sistema, o socialismo”.

Até aí, há certo encadeamento lógico no raciocínio, e a solução seria correta se não fosse por um detalhe: o socialismo é muito pior, pois, além de não ter as qualidades do capitalismo, não conduz o povo ao bem-estar social e ainda acrescenta-lhe defeitos inaceitáveis.

As principais qualidades do capitalismo são as seguintes: é o mais eficiente sistema de geração de riqueza; e é o único sistema compatível com três liberdades: a liberdade individual, a liberdade política e a liberdade econômica. Já os principais defeitos são os ciclos econômicos, que alternam períodos de expansão e períodos de recessão, e a desigualdade de renda entre as classes sociais. Mitigar ambos os defeitos, essa é a principal função do Estado.

Os males do socialismo são: falta de liberdade individual, decorrente da proibição à pessoa sobre a decisão do que fazer de sua vida e de apropriar-se dos frutos de seu trabalho; a eliminação da liberdade econômica, pela supressão do direito de empreender e do direito de propriedade; e a inexistência de liberdade política, pela proibição do direito de divergir e de escolher livremente os representantes do povo.

Por seus defeitos, sobretudo o veto de o indivíduo empreender e deter propriedade com o próprio trabalho, o socialismo destrói o ímpeto produtivo, o espírito empreendedor e a capacidade inovadora do homem. O socialismo real nunca se mostrou capaz de gerar riqueza, sem o que a solução da pobreza torna-se inviável.

A sociedade é algo complexo e o mercado resulta de bilhões de decisões diárias. Não há sistema de governo nem aparelho burocrático capaz de descobrir, item a item, o que produzir e quanto produzir, nem capaz de despertar o espírito de criação e inovação. O mercado, embora com defeitos, é o melhor instrumento inventado para prover o atendimento às necessidades e desejos da população. Tudo o que foi tentado de diferente não conseguiu eliminar os defeitos do mercado e ainda acrescentou-lhe defeitos novos, dos quais os piores são a escassez de produtos e as crises de abastecimento.

Um pedaço de madeira, retirado de uma árvore, é um recurso escasso e finito. Decidir se deve virar uma mesa ou uma escultura não é tarefa para nenhum burocrata, mas para a livre manifestação da sociedade sob o sistema competitivo de preços. O mercado é um sistema de votação diária, no qual bilhões de operações são realizadas a cada hora entre compradores e vendedores, produtores e consumidores.

A questão é simples: o socialismo – no qual não é permitido o direito de propriedade privada e tudo é produzido pelo Estado sob a gerência de funcionários e não de empreendedores – não é capaz de cumprir as complexas funções econômicas em um mundo de tanta complexidade. Ademais, o ser humano não é um anjo de bondade; antes, é um animal racional movido a interesses e incentivos, que são os insumos da criação, da inovação e da disposição para correr riscos.

Assim, no embate entre as duas ideias – a socialista e a capitalista –, o capitalismo revelou-se mais eficiente para resolver as questões econômicas essenciais e promover a prosperidade material. Mitigar-lhe os defeitos (já que não é possível eliminá-los) é o grande desafio da sociedade e do Estado.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.