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No Brasil, as mortes decorrentes da Covid 19 não podem ser tributadas simplesmente à presença da pandemia em nosso território. A maioria delas constitui a somatória do mal que veio da China com moléstias preexistentes que vulnerabilizam as vítimas. Mas as outras, motivadas por dificuldade de atendimento no tempo adequado ou - o pior - por falta de vagas hospitalares e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) dotada de equipamentos para o combate à síndrome respiratória, devem de ser atribuídas aos sucessivos governantes que não investiram o suficiente na estrutura de saúde do país, estados e municípios e, mais ainda, àqueles que desviaram dinheiro dos cofres públicos e com isso comprometeram o poder de investimento do Estado.

Não dá para ignorar que antes da chegada do coronavírus já havia a nefasta fila de pacientes graves jogados em corredores e ou salas de recepção de pronto-socorros e outras unidades de emergência à espera de vaga nos hospitais, e que muitas dessas vítimas morreram sem o devido atendimento. Logo, a crise é anterior à pandemia e seus culpados são facilmente identificáveis.

Agora, com o mal instalado, somos obrigados a assistir a luta entre os autodenominados defensores da vida e os da economia. Uns promovendo o isolamento praticamente total como forma de baixar a transmissão do vírus e evitar a saturação dos hospitais, e os outros defendendo o direito de trabalhar e produzir. Uma contenda burra, que deveria ser imediatamente substituída pela união e entendimento em busca do ponto de equilíbrio que afastasse os efetivamente vulneráveis e mantivesse ativos com as devidas cautelas os menos sujeitos a adoecer e morrer. O momento exige empenho geral e não comporta estrelismos nem aproveitamento eleitoral. Cada governante, no seu quadrado, tem o dever de dar o melhor que seus recursos permitem para a solução da pandemia e evitar falar mal dos outros, pois isso só serve para trazer pânico e desconforto à população. Também há que se evitar que as verbas sacadas emergencialmente e dispensadas dos rigores da licitação se prestem a adquirir produtos superfaturados ou até inexistentes. Os falcatrueiros, sejam eles públicos ou privados, têm de ser contidos e exemplarmente punidos, preferencialmente com a prisão.

Independente da vontade de cada um, estamos todos embarcados no mesmo trem da Covid 19. No nosso país ainda não há como saber se a viagem será curta ou longa. Espera-se que o desembarque seja breve para podermos retomar a rotina. Quando isso acontecer, o ideal será que todos os cidadãos tomem como exemplo os problemas vividos durante o período epidêmico e passem a exigir mais dos governos e dos governantes. Para, na próxima pandemia, epidemia ou simples surto, não sermos novamente atropelados pela negligência, corrupção e outros males que sucateiam o sistema de saúde e hoje levam milhares de brasileiros à morte prematura.

A justificativa de que o flagelo do coronavirus se estende por muitos países não pode prevalecer. Temos de identificar nossas impropriedades e mazelas para combatê-las. E cada país e seu povo que façam o mesmo. O SUS (Sistema Único de Saúde), que consome montanhas de dinheiro público, não pode continuar apresentado como o maior plano de saúde do mundo e manter as falhas e inacessibilidade que, apesar de ser destinado a toda a população, levam muitos brasileiros de baixa renda a pagar planos particulares para não morrer na fila.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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