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Ninguém, em sã consciência, pode negar que a defesa do homem em face dessa inusitada pandemia lança raízes na ciência, lembrada segundo o senso comum.

Essa foi a ideia lançada tantas vezes no Brasil dos últimos tempos. Porém, seria preferível optar-se pela referência ao conhecimento. Claro que, sob a ignorância e o achismo, somente se poderia atingir o ponto nefasto a que chegamos, não só em prejuízo dos brasileiros como de toda a humanidade, em razão da multiplicação geográfica da contaminação.

Isso porque o conhecimento foi corretamente cindido em duas fórmulas pelos epistemólogos: divide-se em técnica e em ciência. Distinguem-se porque a técnica nos ensina o "como". E a ciência nos diz o "porquê". O "como" consertar um aparelho de televisão nos leva ao resultado pragmático desejado, mas permanecemos, em geral, ignorantes do "porquê" as medidas adotadas produziram a recomposição útil do objeto.

Em relação às medidas da crise, a ciência, em verdade, executa técnicas. A técnica do isolamento e do distanciamento social, da constante limpeza das mãos, do álcool gel, tudo para evitar que o vírus penetre por nossas cavidades expostas: a boca, o nariz e os olhos. E, uma vez contraído o mal, a técnica dos respiradores e dos procedimentos medicamentosos. Mesmo a descoberta de uma vacina, fundada em exaustivas experiências empíricas, seria uma técnica de obstruir os efeitos danosos do vírus no ser humano, não uma ciência.

Descobrir a ciência seria explicar os motivos pelos quais homem e vírus não podem coabitar neste planeta. As razões de sua incompatibilidade. Quais as propriedades biológicas de cada qual que os excluem da vida harmônica sobre o planeta Terra.

Sabe-se que o vírus já se encontrava neste páramo cósmico quando se desenvolveu a vida humana. Porém, não será, obviamente, o direito de propriedade - o direito do primeiro ocupante, um de seus fundamentos - que nos dará uma explicação científica.

Se o homem, até hoje, domina apenas pequena parcela de seu potencial cognitivo, isso ocorre no domínio das ciências. Ele conhece quase que completamente todas as técnicas, o que lhe possibilita a vida contemporânea de incríveis avanços tecnológicos. Mas ainda conhece pouco sobre o "porquê" da internet, das comunicações e das visões à distância em tempo real, enfim de todas essas conquistas, que imprecisamente se dizem científicas e que nos proporcionaram inimagináveis comodidades existenciais.

O avanço no campo estrito da ciência será um dos legados paradoxais dessa triste pandemia, que leva a vida de muitos de nossos irmãos da espécie. Em tempo que não se pode prever a ciência nos desvendará quais sejam as condições originárias de ocupação de um planeta - sempre mutáveis e incertas, segundo o enunciou Heinsenberg e sua física quântica das probabilidades -  por várias espécies e os modos pelos quais poderão conviver na ocupação dos espaços cósmicos.

Até hoje, a atividade científica se voltou ao mundo macrofísico. Foi ele o objeto da física de Newton e mesmo de Einstein, da energia, da matéria, das grandes distâncias e de sua relatividade, que revolucionaram os conhecimentos humanos e nos proporcionaram o "admirável mundo novo". Todavia, pouco se caminhou na esfera microfísica, como na microbiologia, onde encontramos o vírus. Por interesses políticos, posto que um foguete espacial tripulado pode render votos, enquanto o financiamento das pesquisas biológicas do invisível tem tanta importância para os donos da política como o investimento em saneamento básico.

Amadeu Garrido de Paula, poeta e ensaista literário, é advogado, atuando há mais de 40 anos em defesa de causas relacionadas à Justiça do Trabalho e ao Direito Constitucional, Empresarial e Sindical. Fundador do Escritório Garrido de Paula Advocacia e autor dos livros: “Universo Invisível” e “Poesia & Prosa sob a Tempestade”. Ambos à venda na Livraria Cultura. bruna@deleon.com.br

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