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Não obstante a crise sanitária, que tira a Nação dos eixos, verifica-se o esforço da classe política para construir uma terceira via competitiva para as eleições do próximo ano, quando a população será chamada às urnas para eleger (ou reeleger) presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Sem aqui emitir juízo sobre a situação do ex-presidente Lula e suas relações com o Supremo Tribunal Federal e as dificuldades enfrentadas na corte pelo presidente Jair Bolsonaro, somos levados a torcer para que a suposta alternativa a essas duas extremidades políticas – direita e esquerda – não naufrague nos apetites e paixões dos que hoje procuram se aglutinar.

Numa análise mais simplória, o que se procura montar hoje é uma frente capaz de reunir perdedores da polarização Bolsonaro-Lula. Essa frente teria feições parecidas ao antigo MDB que, ao fim do regime militar, foi abrigo dos dissidentes, um verdadeiro zoológico ideológico com espécimes de todas as tendências. Tanto que depois de chegar ao poder as castas foram buscando caminho próprio e o partido outrora imbatível tornou-se coadjuvante ou simples troco na negociação política, se definido numa linguagem mais popular. Teve um avanço quando Michel Temer assumiu o governo, mas não decolou.

A prática revela que as ditas frentes políticas constituem ajuntamentos temporários com um objetivo. O MDB (depois PMDB) do passado serviu para abrigar os oposicionistas e fazer a transição democrática. Já em pleno processo democratizante, formou-se outra frente no movimento Diretas-Já, que não foi vitorioso mas ensejou a eleição de Tancredo Neves, um civil, na ultima reunião do Colégio Eleitoral. Hoje é difícil imaginar uma meta inquestionável da frente. No momento não há ninguém despontando com força para suplantar Bolsonaro e Lula. E a heterogeneidade dos que procuram se reunir é tão grande que não permite o raciocínio de que seriam capazes de abrir mão da sua agenda pessoal em favor de uma postulação coletiva.

Se tivesse uma terceira via, seria mais confortável ao eleitor, que não necessitaria escolher entre direita e esquerda. Poderia caminhar rumo ao centro. Mas o difícil é definir quem estaria ao centro, já que os artífices da terceira via brasileira não são medidos por seus posicionamentos político-ideológicos, mas pelas desventuras que tiveram ao longo dos anos tanto com os governos de esquerda quanto com os de direita, de quem foram aliados na política de coalizão aqui implantada. E os nomes novos que surgem, de artistas de televisão que velhas raposas tentam transformar em bons candidatos, não empolgam pois trazem apenas a popularidade auferida na exposição profissional. E, para ser um bom candidato, isso não basta, é preciso algo mais. Fosse assim, todos ou quase todos os comunicadores que se candidataram nas diferentes eleições teriam sido eleitos. 

Na Nova República – a partir de 1985 – as esquerdas ascenderam gradativamente ao poder e seus integrantes pensavam nunca mais serem dali apeados. Mas o desgaste natural somado e os maus comportamentos levaram-nos à bancarrota consolidada pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. No vácuo criado, Bolsonaro decolou e – talvez até ajudado pelo episódio da facada, que o fez vítima – elegeu-se presidente. Os perdedores não se conformaram e mantiveram as estratégias eleitoreiras, partindo para a polarização, que pode atender o interesse do mundo político, mas desagrada ao eleitor, cada dia mais ausente das votações. A bestial disputa político-ideológica que hoje assistimos só atrasa o país e turva a imagem da classe política que, por o bem geral, deveria fazer-se respeitada e, se possível, até admirada. A formação da terceira via poderá não passar de um sonho...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br 

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