A vacinação das crianças e a pouca orientação
O município de São Paulo começará na segunda-feira, dia 17, a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos contra o Covid-19. As vacinas, com dosagem diferente das destinadas aos adultos, já chegaram ao Brasil e nas próximas horas estarão à disposição dos governos estaduais e municipais que já definiram o começo da aplicação. Vacinar as crianças é uma inovação em relação ao ano passado, quando se afirmava que, por serem menos susceptíveis ao vírus, os públicos infantil e juvenil não necessitavam de imunização. A vivência da pandemia mudou o conceito, crianças e jovens pereceram e, agora, todos devem ser vacinados. É a redefinição do processo vacinal, desenvolvido em regime emergencial, no calor da necessidade, com a aplicação do imunizante mesmo antes de comprovada sua eficiência e os possíveis efeitos colaterais.
Temos visto pais com sérias dúvidas, agora, quando as crianças começarão a receber a primeira dose. Invocam a mesma discussão que no ano passado girou em torno da vacina para os adultos: até onde a droga resolverá a pandemia e poderá deixar efeitos indigestos para o futuro. Os resultados da vacinação dos adultos - queda das internações e dos óbitos de vacinados - diminuíram um pouco as resistências, mas mesmo assim ainda temos 20 milhões de brasileiros que fugiram da segunda dose, numa época em que muitos já receberam a terceira e estão se preparando para a quarta. Em relação às crianças, coloca-se uma preocupação adicional. Por t erem o organismo em desenvolvimento, até onde a vacina poderá inibir a adequada formação ou funcionamento de algum dos órgãos.
As autoridades sanitárias, que disponibilizam a vacina e administram a estrutura de sua aplicação têm sido pouco convincentes quanto aos efeitos de longo prazo. Os governos estaduais e municipais, que atuam mais próximos do público alvo, deveriam ser mais propositivos e até realizar massivas campanhas informativas pelos jornais, rádios, TVs e redes sociais, destacando a importância de vacinar. Isso tranquilizaria a população. Além disso, acionar mais frequentemente os centros médicos e científicos existentes no país para que, à sombra do conhecimento, seus especialistas emitissem opiniões e orientações. Infelizmente, isso não tem ocorrido com na int ensidade aconselhável e, por consequência, proliferam as opiniões de gente que não tem credenciais para discutir o assunto ou simplesmente repete o que ouviu alguém dizer.
O tratamento e os antídotos de uma pandemia deveriam ser tratados de forma até reverencial, pois se destinam a salvar vidas. Mas, no Brasil do Covid-19, o assunto tornou-se polêmica das mais rasteiras e o que se verifica é uma expressiva parcela da população amedrontada. Em vez de serem contestados e até achincalhados, como foram em alguns lugares onde compareceram, os infectologistas e outros especialistas deveriam ser ouvidos e instados a dar o melhor do seu conhecimento ao deslinde da vacina. Os médicos também não deveriam ter sido perseguidos por terem opiniões diferentes uns dos outros e dos que dominavam a cena. O tal negacionismo, tão citado hoje em dia, não passa da luta entre grupos que almejam lucr o político, social, profissional e até econômico com a pandemia.
Já passou da hora de acabarem os desentendimentos. Enquanto governantes, autoridades sanitárias, parlamentares e outros envolvidos discutem, o povo morre pela moléstia não combatida da melhor forma. É compreensível que ainda não existam respostas a todas as indagações sobre a vacina, pois os experimentos e pesquisas carecem de tempo de maturação. No entanto, a grande dívida que a estrutura social-governamental tem para com a população é a falta da orientação adequada e convincente das pessoas. Todos têm o direito de saber o que receberão de benefício e quais os riscos ao ter inoculada a droga e decidir qual caminho tomar. O ideal é que todos se vacinem, livre m-se na medida do possível do Covid-19 e se, futuramente, tiverem problemas, os resolvam na devida época. Nada impedirá, por exemplo, que os centros de pesquisas acompanhem o desenrolar a vida pós-vacina. Aliás, isso deve ser uma obrigação tanto dos órgãos governamentais, custeados com o dinheiro do povo, quanto da indústria farmacêutica, que lucra com a produção da vacina...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br
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