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Três policiais do Rio de Janeiro e dois de São Paulo são afastados do trabalho todos os meses por problemas de ordem psicológica ou psiquiátrica. Esse quadro, além de indicar membros da classe como verdadeiras bombas humanas, possíveis de explodir a qualquer instante e lugar, também é responsável pela elevada taxa de suicídios entre os 425 mil homens e mulheres policiais distribuídos pelos 26 estados e distrito federal. Embora não exista uma estatística nacional, sabe-se que São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os estados com maior número de policiais a tirar a própria vida nos últimos anos. Em São Paulo, 182 suicidaram-se entre 2006 e 2016 e o quadro se agravou a partir de 2012. Segundo dados da Ouvidoria das Polícias, só em 2017 e 2018 ocorreram 71 casos e o mais grave é que, destes, 20 foram em 2017 e os outros 51 em 2018, um crescimento de 73%, que preocupa o ouvidor Benedito Mariano.

As estatísticas estaduais também demonstram o afastamento por transtornos mentais de 5.625 policiais em Pernambuco (de 2012 a 2018), 4.115 em São Paulo (2008 a 2018), 2068 em Santa Catarina (2013 a 2018), 1914 em Mato Grosso do Sul (2012 a 2018) e 1014 em Alagoas (2015 a 2018).

Mesmo parciais, os números conhecidos fornecem elementos para o raciocínio sobre o problema. Devemos compreender que esses distúrbios decorrem da atividade estressante e de questões pessoais, familiares e sociais. Pela característica de sua atividade, o policial resiste até onde aguenta para só depois pedir ajuda, quando não opta pelo desfecho extremo, afirmam profissionais que trabalham no seu atendimento. As considerações de psicólogos, militares e principalmente dos vitimados podem ser encontradas em diferentes publicações jornalísticas e livros que abordam o problema.

Entre as muitas reformas de que a sociedade brasileira é carente, destaca-se a problemática dos policiais. Não têm sido raras as greves que, mesmo proibidas, ocorrem em vários estados, o bico que hoje praticamente institucionalizado diante dos baixos salários, e questões supervenientes como impossibilidade de suprir as necessidades familiares, dívidas, moradia de risco e outras carências. Os governantes têm o dever de voltar suas atenções para esse drama que é dos policiais mas se projeta automaticamente na sociedade a que ele serve e, deprimido, pode instabilizar com decisões equivocadas que podem levar à própria morte e a de terceiros.

Os regulamentos militares são rígidos. O policial é, por isso, um profissional diferenciado. Carrega consigo deveres obrigações críticas e nem sempre dispõe de recursos próprios ou mesmo da corporação para se proteger e cumprir sua jornada sem problemas. Seu trabalho é de larga relevância à sociedade, mas não se deve esquecer que ele também é um ser humano com necessidades e carente de cuidados, principalmente de seus empregadores, que são os governos estaduais...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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