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Fiquei intrigado, ontem, ao assistir as cenas de manifestações contra o aquecimento global. “My lungs are burning” (Meus pulmões estão ardendo) diziam alguns desses cartazes mostrando pulmões em fogo. Histeria gráfica ou grafismo histérico? A TV exibia cenas de eventos simultâneos em milhares de cidades do mundo, algumas com poucos, outras com muitos manifestantes, mas transmitindo a impressão de que, em conjunto, representavam a voz dos povos da Terra. Será? Seria? Sério?

Ontem mesmo li que o Mato Grosso, há 21 anos não sofria seca tão intensa quanto a atual. Ora, se hoje a seca tem a ver com alterações ambientais, o que motivou a seca de igual intensidade há 21 anos? E note-se que, frequentemente, nos chegam informações de semelhante teor referindo períodos bem longos de tempo e atrapalhando as interpretações que se fazem dos atuais desvios das médias habituais.

Os seres humanos têm potencialidade para destruir o ambiente natural, acabar com as possibilidades de certas formas de vida ou com a vida ela mesma. Por isso, devem ser educados a zelar pelos bens da natureza e da vida, esses esplêndidos dons de Deus. A poluição é um gravíssimo problema. Pessoas morrem. Rios inteiros morrem. Mas será ela que elevou a temperatura do planeta em 1,02 graus centígrados desde o início da Revolução Industrial no século XIX? Nesse particular, o Sol, o soberano Sol, parece imbatível. É o que parecem me ensinar as muitas glaciações já ocorridas ao longo de milhões de anos de história da Terra. Há nesse tema, porém, de ambos os lados, argumentos científicos que estão muito além de meu nível de conhecimento. Todo palpite seria apenas um palpite.

É noutra perspectiva, presente nas manifestações do dia 20/09 que o assunto me leva a estas linhas. Chamaram-me a atenção os dizeres de muitos cartazes e cenas em que grupos de manifestantes clamavam em coro: "What do we want? We want climate justice! When do we want it? We want it now!" (O que nós queremos! Nós queremos justiça climática! Quando nós a queremos? Nós a queremos agora!). Justiça climática? Que, diabos, pode ser isso? Fui atrás do esclarecimento e encontrei no site do Instituto Humanitas da Unisinos, tradução de artigo da militante neozelandesa Sandy Hildebrandt, cuja íntegra pode ser lida aqui (1)

Extraio do mesmo alguns tópicos com a finalidade de mostrar o quanto parcela expressiva da militância ambientalista mundial pode ser radical e associada ao movimento comunista internacional.

a)    Esse movimento [por justiça ambiental] era diferente do movimento ambientalista mais amplo, que se centrava na degradação ambiental e, com frequência, ignorava os seus impactos nas comunidades e nos bairros mais pobres. O movimento por justiça ambiental procurou livrar o mundo do racismo ambiental – um problema que não era sequer levado em consideração pela maior parte dos ambientalistas.

b)    Ele vê as mudanças climáticas como uma questão complexa de justiça social, e não apenas como um problema ambiental. Enquanto os ambientalistas podem considerar que as mudanças climáticas sejam o simples resultado de um sistema industrial com pouca regulamentação, a justiça climática acredita que elas sejam o produto da desigualdade e de um sistema econômico obcecado pelo crescimento em prol do crescimento. O racismo e o classismo estão intrinsecamente conectados às mudanças climáticas, e esses problemas não podem ser ignorados.

c)    Os valores do movimento por justiça climática são semelhantes aos valores dos grandes movimentos por justiça social: comunidade, grupos marginalizados, poder popular e igualdade. Isso é percebido em suas ações, local e globalmente. A justiça climática é uma forma ativa e integrada de enfrentar os desafios causados pelas mudanças climáticas, pelo capitalismo e pela injustiça. Pessoas comuns podem fazer a diferença em suas comunidades e no mundo!

Por outro lado, cartazes amaldiçoavam o agronegócio e a indústria como vilões do aquecimento global. Nessa perspectiva, aparentemente, o planeta estaria muito bem protegido pelo artesanato e pela agricultura orgânica. No entanto, em outras passeatas, certamente as mesmas pessoas estariam clamando por “nem um direito a menos”, pleno emprego, bons salários e alimentos para os quase oito bilhões de habitantes da Terra. Aí começa a faltar juízo e a politização do tema toma um caminho perigoso.

(1) http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/551802-o-que-e-justica-climatica

Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+ - puggina@puggina.org

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