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Não se concretizaram as previsões de amanhecermos o 1º de novembro com as estradas bloqueadas pelos caminhoneiros. Embora mantenha as reivindicações, que passam por uma solução à alta constante do óleo diesel e outros combustíveis e por questões ligadas à previdência da classe e às tarifas dos fretes, a classe optou por não confrontar as decisões judiciais que proibiram a interrupção do tráfego em rodovias e no acesso aos terminais. Resta agora os governos (federal e estaduais), transportadoras, caminhoneiros e outros envolvidos se esforçarem para conseguir um acordo que atenda a todos e devolva a tranquilidade ao setor, que é estratégico e já deu mostras de sua força para colocar o país em colapso de abastecimento.

A questão não é solucionável num passe de mágica. Resulta de décadas de política de transportes equivocada. Erraram lá atrás os governos que deixaram de cuidar das ferrovias e optaram por colocar na corroceria do caminhão praticamente todas as cargas que se movimenta nesse país. O bom seria se as ferrovias, em vez de sucateadas, tivessem sido modernizadas para cumprir o transporte de longa distância e a hidrovia recebido os investimentos necessários para eliminar pontos que hoje a estrangulam por bancos de pedras e outros obstáculos que impedem a passagem das barcaças nos períodos de pouca água, como atualmente. Mas, em vez de investir no trem e na hidrovia, sucessivos governos optaram pelo caminhão. Preferiram o lucro imediato das obras de construção de estradas e da indústria automobilística no lugar de manter o transporte de custo inferior, já existente como exemplo nas regiões mais desenvolvidas do planeta, onde o caminhão é usado só para levar as mercadorias da fonte produtora ao terminal mais próximo e do terminal de desembarque ao consumidor.

O erro estratégico já está cometido. A alternativa é consertá-lo gradativamente. O governo tem investido em ferrovia e licenciado a iniciativa privada a também fazê-lo. Tramita pelo Senado a Medida Provisória nº 1065/2021, que proporcionará a construção de 5640 quilômetros de ferrovia aos 30 mil da malha já existente. É necessário operacionalizar o transporte de longa distância, ir substituindo da melhor forma o caminhão e criando esquemas para o seu aproveitamento nas pontas do trajeto.

Um importante passo foi dado nos últimos dias pelos governadores, que decidiram congelar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que onera em 27% o preço dos combustíveis. Deverão agora promover novas tratativas para avançar na solução que atenda o interesse dos consumidores de combustíveis (entre eles os caminhoneiros) e não prejudique a arrecadação dos Estados. Também há que se encontrar melhores fórmulas para a política de preços da Petrobrás que, mais ou menos dias, será privatizada. Hoje, é bom lembrar, a sua manutenção estatal em nada beneficia a população, mas apenas a sindicatos, esquemas de corrupção e a seus felizes funcionários, aquinhoados com direitos e benesses exorbitantes e incompatíveis com o mercado de trabalho brasileiro, tudo pagos pelo consumidor de seus produtos.

Espera-se que os governantes e dirigentes – federais e estaduais – não politizem a questão dos caminhoneiros, como foi feito com a Covid-19. Só a solução do problema, ainda que temporária, poderá ajudar suas imagens para as próximas eleições. E ainda mais: mesmo que se produzisse o caos, não haveria como responsabilizar os adversários. Todos apareceriam mal na fotografia...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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