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Jacinto apenas ouvia a conversa da família enquanto almoçavam naquele domingo. Falava pouco, até porque não tinha muito o que falar, já que o assunto era sempre sobre compras, carros, roupas, festas e dinheiro, principalmente, dinheiro.

Sabia da boa situação financeira de seu pai e seus irmãos, mas como é de regra: Quem tem, sempre quer ter mais. E Jacinto andava de saco cheio daquele: “Dinheiro é tudo na vida”, pois o jovem era completamente avesso ao status e nunca ligou para bens materiais.

A família é claro estanhava, mas o rapaz era trabalhador, mesmo largando os estudos no colegial, sempre ajudava o pai na pequena empresa de beneficiamento de fios.

- De hoje em diante não quero mais saber de dinheiro, vou viver lá no fundo do quintal e vou comer apenas o que eu mesmo plantar, não usarei nada que o dinheiro compre!

Da até pra imaginar a indignação da família e amigos ao ouvirem essas palavras, mas achando que tudo aquilo não passava de um lapso de loucura ou rebeldia, não ligaram muito.

Jacinto decidido se mudou para o fundo do quintal, onde armou uma pequena barraca, cavou uma fossa mais pro fundo e aumentou a sua pequena plantação de couve.

A vida mudou completamente, ficava o dia inteiro à procura de lenha para seu pequeno fogão de barro, buscava água numa bica perto do lago da cidade e cuidava atenciosamente da plantação de couve.

Sua preocupação maior era com as constantes borboletas que apareciam no quintal e o medo de uma devastação de marandová. Arrumou um pedaço de borracha e a toda hora corria atrás das coloridas borboletas como quem protege seu maior tesouro, ou seja, as couves.

E assim prosseguiu por vários dias, Jacinto comia de tudo, e tudo para ele era a couve: Couve refogada, salada de couve, sopa de couve, suco de couve...

Enquanto isso seus irmãos se davam bem, um deles até comprou um carro importado, o outro conseguiu um apartamento na praia; e para jacinto tudo o que possuía era um pedaço de borracha e a plantação de couve.

Num dia chuvoso, um dos irmãos de Jacinto o encontrou caído ao lado da barraca, no meio da chuva. Foi logo levado ao hospital onde se constatou que estava desnutrido e anêmico.

Ficou no hospital por dois dias tomando soro e medicamentos.

No terceiro dia a enfermeira chega ao quarto de Jacinto onde o encontra já corado e com um pequeno sorriso no rosto:

- Muito bem senhor Jacinto, o senhor já está quase bom, agora é a hora de comer alguma coisa com sustância. O que está com vontade de comer?

Jacinto pensa um pouco e responde num supetão:

- A senhora não teria uma saladinha de couve? Teria? 

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

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