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Jesuíno morava num barraco de três cômodos num cortiço sujo esquecido pelas autoridades juntamente com Antônia, sua amasiada e seus dois filhos pequenos. O que diferenciava Jesuíno dos outros moradores daquele furdunço era seu apreço pelas coisas belas e até luxuosas, mas que via tão distante que para os outros do lugar não compensava nem ao menos sonhar.

- Enquanto a gente como esse arroz quebrado, os ricaços comem caviar!

Ao ouvir Antônia resmungar no fogão, aquela frase ficou na cabeça de Jesuíno por um bom tempo. Até que decidiu:

- Vou comprar esse tal de caviar. Pelo menos uma vez na vida vou comer comida de rico.

Foram seis meses de mais sacrifícios do que já faziam, passava o dia inteiro catando latinhas e materiais reciclados, enquanto Antônia fazia faxina em três casas na cidade todo dia desde a madrugada até o céu escuro da noite.

Na loja de produtos importados a tão desejada lata com cem gramas de caviar custava quase mil reais, uma fortuna para Jesuíno, porém, sua determinação foi maior e de Real em Real guardou um dinheirinho, cortou os já cortados gastos do barraco e passaram a comer somente pão com mortadela nos últimos dois meses.

Quando Jesuíno subiu o cortiço com a latinha de caviar nas mãos, todos os moradores arregalaram os olhos, não acreditavam que o pobre e esfarrapado Jesuíno conseguira comprar aquela iguaria impagável.

A multidão se espremeu no barraco, no quintal sujo e por todas as frestas da parede de madeira e latão os olhares se fixaram em Jesuíno sentado à mesa com a lata de caviar em sua frente.

Abriu com cuidado e saltou a seus olhos aquelas bolinhas escuras e esquisitas. Perguntou se alguém sabia como comia aquilo, se era preciso cozinhar, comer cru ou passar no pão. Ninguém fazia ideia.

Com muito cuidado pegou um pouco do caviar com uma colher e devagarinho levou à boca. Todos os observadores abriram a boca também como numa degustação coletiva. Mastigou sem jeito, franziu a testa, fez cara feia e cuspiu o caviar no chão, logo em seguida saiu correndo até a fossa do quintal para vomitar.

No outro dia voltou à loja de importados:

- Moço acho que esse caviar está estragado. Tem um gosto horrível. Queria devolver.

O rapaz olhou, cheirou, experimentou e disse que estava em perfeito estado e delicioso, mas se negou a devolver o dinheiro já que a lata estava aberta.

Ao sair da loja, Jesuíno jogou a lata de caviar praticamente cheia no lixo.

Antes de subir o morro contou as moedas do bolso, passou no mercado para comprar a refeição daquele dia e pediu pão com mortadela.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.  rodrigojacutinga@hotmail.com

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