Crônica: Sem beijar na Pandemia
Estamos de quarentena.
Mesmo que não seja aquela quarentena! Já que é preciso trabalhar para quem tem trabalho e realizar as necessidades básicas do dia a dia que incluem sair de casa de vez em quando.
Entretanto, tem muita gente que está pouco se lixando para quarentena, são os autointitulados “Anti-covid”, aqueles que tem absoluta certeza que nunca serão infectados e com isso, dá-lhe passeios, festinhas, churrascos etc.
Mas, não é bem sobre esses supostos e equivocados super-heróis que escrevo, e sim sobre aqueles que na medida do possível cumprem o isolamento social (que acostumamos chamar de quarentena) e se preocupam, não só em si mesmo, mas também com as outras pessoas.
É o caso do Waldemar.
Waldemar sempre fora um rapaz um tanto tímido, porém, pouco antes da pandemia chegar ao Brasil, ele decidirá tomar uma atitude drástica em sua vida e a partir daquela ocasião não ficaria mais sozinho, pois a solidão sempre fizera parte de sua vida devido principalmente à baixa-autoestima e a timidez desde criança.
Cortou o cabelo com estilo, comprou roupas transadas, perfumes importados, trocou o Corsinha por um Golf 2005 que ainda vai pagar mais 36 prestações e se preparou para as baladas e noitadas onde colocaria em prática todas cantadas e a arte da conquista que aprendera no Youtube.
E no início de março, o rapaz já se imaginava em meio a mulherada, ou quem sabe, conquistaria o coração de uma princesa que lhe chamaria de meu príncipe encantado e viveriam felizes para sempre.
Mas então, chegou o coronavírus e com ele a quarentena.
Waldemar, que mora com os pais, não pode ficar saindo a noite, até porque poucos estabelecimentos estão abrindo e o coitado ainda não conseguiu dar um beijinho sequer.
E o pior é que agora ninguém está muito interessado em beijar alguém, com isso as possibilidades de Waldemar diminuem ainda mais.
Coitado do Waldemar, esperou tanto para poder se tornar um conquistador, e agora tem que ficar trancado em casa, sem saber quando vai poder enfim vestir suas roupas maneiras, seu perfume Jean Paul Gaultier e dar uns roles em frentes aos bares da cidade com seu Golf cinza prata conquistando a mulherada.
Enquanto isso, ele vai aprendendo mais técnicas para conquistar mulheres, assistindo vídeos no Youtube, esperando a pandemia passar.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores. rodrigojacutinga@hotmail.com
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