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Não importa tanto quem são as pessoas que irão ou não sufragar o seu voto numa urna, seja ela eletrônica ou não; o que realmente interessa é saber quem irá contar esses votos, sejam eles digitais ou analógicos. Dizem que uma afirmação similar a essa teria sido feita pelo tirano marxista Joseph Stálin. Dizem, mas não sei se, de fato, ele havia dito isso. Se ele pronunciou ou não essas palavras, não importa. O que realmente interessa é que tal afirmação é mais do que certa. É certíssima.

Diante desse dito, e tendo diante de nossas ventas toda a discussão que está sendo travada em torno do que se convencionou chamar de “voto auditável”, temos que nos perguntar, com sinceridade, no íntimo do nosso coração: o que há de errado em querer que a apuração dos votos de uma eleição seja feita de uma forma totalmente pública e com uma maior transparência?

Não apenas isso. Penso que devemos nos indagar a respeito das razões que levam muitos políticos, partidos e figuras investidas de poder e toga, a serem terminantemente contra a implantação de uma maior transparência no processo democrático.

Pior! O que leva eminências pardas, encasteladas em suas sinecuras republicanas a rotular uma reivindicação razoável, e historicamente suprapartidária, de golpe de Estado?

Sejamos honestos: há algo de podre nos plúmbeos ares do reino de Avilan e, tal odor putrefaz, não é fruto de latas de leite condensado, nem um subproduto da circunferência avantajada do centrão.

Ops.! Divaguei. Quase me perdi. Perdoem-me por isso e voltemos logo ao ponto desse mal contado conto.

Essa impostura que vem sendo adotada por inúmeras lideranças políticas de nosso triste país é, no mínimo, suspeita. Digo isso não por maledicência. Longe disso. Afirmo apenas que é mui estranho vermos partidos políticos, lideranças partidárias e formadores de opinião que, até a véspera, eram defensores dessa bandeira e, hoje, do nada e de forma ranheta, chamam essa reivindicação de retrocesso, ou de algo similar.

Como dizem os populares: algo de errado certo não está.

Doutra parte, claro que há todo um fascínio que é fomentado pela velocidade na apuração dos votos que nos foi facultado pela tecnologia das urnas eletrônicas e, de fato, tal instantaneidade é algo admirável. Claro que é. Porém, a sanidade de uma democracia não se mensura pela velocidade na apuração dos votos, nem pela quantidade de parafernálias tecnológicas que são depositadas sobre um processo eleitoral. A robustez de uma democracia se constata, entre outras coisas, no respeito que se manifesta em relação a inteligência da sua majestade o eleitor.

E se matutarmos um cadinho, constataremos que não há nada mais desrespeitoso numa votação do que uma apuração sigilosa, praticamente secreta, cuja recontagem dos votos sufragados torna-se impossível e, mesmo assim, não se pede, mas sim, exige-se que os cidadãos confiem cegamente naqueles que são responsáveis pelo anúncio do resultado final do pleito.

Sou franco em dizer: considero-me uma pessoa que procura ser honesta e, se fosse depositado sobre meus ombros a responsabilidade de apurar os votos e anunciar o resultado de uma eleição, eu não teria a ousadia de exigir dos demais concidadãos que simplesmente confiassem em minha probidade, impossibilitando qualquer questionamento do meu anúncio final. De jeito maneira.

Aliás, da mesma forma que na matemática temos a prova real, para verificarmos se resultado final de uma conta está certo ou errado, numa eleição é imprescindível que tenhamos a possibilidade de recontar os votos para, se uma das partes desejar, podermos tirar a prova e, atualmente, como todos sabemos, para a infelicidade geral da nação, isso é impossível.

Dito de outro modo, não somos nós que devemos confiar credulamente em algo simplesmente porque figuras como os Ministros do Supremo Tribunal Federal disseram que esse algo é confiável porque eles disseram que é. Como todos nós sabemos, essa história de “la garantia soy yo” exala sempre pútridos odores. Se realmente os Supremos querem nossa confiança estes têm o dever de nos convencer de que o que eles estão advogando é não apenas confiável, mas também e principalmente, verificável.

Pois é. E se formos ligar alguns pontos, veremos que, realmente, eles são merecedores de nossa total e irrestrita confiança. Senão, vejamos: até o momento, essas vetustas figuras têm nos apresentado muitas razões para que, realmente, possamos cegamente confiar em suas olímpicas palavras que, claramente, refletem uma visão de mundo que, por hábito, não distingui prioridades de banalidades.

Dentre elas, podemos destacar os incontáveis casos de arquivamento de processos, movidos contra raposas políticas históricas, que deitam e rolam nos ovos do erário do nosso galinheiro republicano. Processos esses que foram devidamente arquivados pelos Supremos porque, "sacumé", os mesmos prescreveram.

Não podemos esquecer, também, da morosidade que se faz presente em inúmeros outros processos que, possivelmente, em breve também acabarão tendo o mesmo destino. Tudo isso, junto e misturado, inspira em cada um de nós, reles cidadãos, uma suprema confiança nas palavras que são exaladas pelos apolíneos lábios dos Supremos que habitam o supremo.

Bah! Estava me esquecendo. Essas mesmíssimas almas ilibadas que dizem que não há necessidade de mais transparência na apuração dos votos, e que reivindicar isso seria um golpe contra as instituições democráticas, são os mesmos que tornaram Lula elegível, apesar de fato dele ter sido condenado em primeira instância, em segunda instância e pelo STJ. Porém, todavia e, entretanto, segundo um dos supremos, tais condenações não valeram porque o primeiro juiz que o condenou não poderia fazer o que fez e que, todos os demais juízes que julgaram o caso estavam de brinques.

Pensando bem, somando tudo isso e misturando com leite, açúcar e abacate, como é que alguém em sã consciência pode ter a petulância de querer mais transparência na apuração dos votos? Venhamos e convenhamos, esse papo de transparência e possibilidade de verificar a lisura de um processo eleitoral, respeitando a inteligência dos cidadãos, só pode ser coisa de fascista, golpista, negacionista e demais instas que não cabem nas turvas linhas dessa escrevinhada.

Resumindo o entrevero, o nosso sistema eleitoral é tão seguro, tão seguro, que é impossível dizer se houve ou não fraudes em uma eleição, porque simplesmente o sistema é aprova de tudo, inclusive de averiguação. Não podemos recontar os votos, não temos meios de tirar a prova real da equação democrática, porque antes da democracia ser, o establishment, o TSE é.

Enfim e por fim, brincadeiras à parte, é muita leviandade exigir tamanha credulidade dos eleitores. É muita leviandade mesmo.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela - professor e cronista (dartagnanzanela@gmail.com)

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