Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.
Artigos e Opinião 09/10/2018  08h42

Fake News

A ameaça a democracia percorreu o pais. A divulgação feita pelo próprio governo não deixava dúvidas que a denúncia era autêntica. Ninguém podia duvidar que havia mesmo um plano para a tomada do poder. A notícia correu pelos meios de comunicação e pelo boca a boca. Os jornalistas não se deram ao trabalho de duvidar da notícia e procurar as fontes para que ela fosse confirmada ou não. Era mais fácil e conveniente acreditar e não entrar em confronto com o patrão. O entendimento geral era que se a fonte era uma ou mais autoridades, não se  poderia duvidar da sua procedência. O ambiente de polarização política que o pais vivia era propício para radicalismos da direita e da esquerda. Um acusava o outro de estar planejando um golpe de estado e implantar ou um governo de inspiração comunista ou fascista no Brasil. As pessoas passaram a se agredir verbalmente de acordo com a opinião que formavam em cima do que era noticiado. As qualificações de golpista, comunista, fascista, bolchevista, nazista, conservador  se alternavam e muitas amizades, mesmo entre familiares, se perderam diante da troca de ofensas. O debate de idéias foi substituído por calúnias e difamações de lado a lado. Muito pouco se debateu sobre o programa ou onde os detentores do poder pretendiam levar o país.

O melhor cenário para incendiar o Brasil  era a eleição para presidente da república. Dada a importância do cargo na organização política do país, um presidente vinculado a uma das facções em luta seria fundamental para a vitória de uma das  ideologias. O mundo estava coalhado de países que instalaram governos autoritários de esquerda e direita. Para o povo, de uma maneira geral, um governo forte, firme seria vital para o desenvolvimento, criação de empregos e arrumação do Estado. A oposição foi rotulada de vermelha, de estreita ligação com o comunismo e suas variações. Esta por sua  vez atacava o governo com a pecha de fascista e que fazia de tudo para permanecer eternamente no poder. Só a eleição presidencial poderia auferir quem tinha mais força e era capaz de levar a nação para um dos espectros ideológicos correntes no mundo. Para a direita ou para a esquerda. É verdade que boa parte da população não sabia o que isso significava. O debate estava concentrado nos grupos mais politizados. Mas o povo era movido por notícias que uma vez a esquerda no poder, a família, a religião , a moral e os bons costumes corriam sérios riscos. O deus Estado se incumbiria de educar as crianças longe dos pais. As terras dos latifúndios seriam submetidas a uma reforma agrária com expropriação e seus donos não receberiam um tostão. Já os camponeses teriam a sua parte neste latifúndio.

Nada como uma boa fake News de tinta, papel e ondas do rádio para servir de pretexto para um governo ditatorial. O comandante do  exército e o presidente divulgaram em todo o pais a descoberta pelo Estado Maior de um plano secreto  que entre outras coisas determinava quem seria eliminado e quem seriam os assassinos durante a tomada do poder da república. Divulgaram que era uma nova tentativa, como a Intentona Comunista de 1935. Caso a quartelada não desse certo, dizia o documento,  deveriam ser feitos  reféns os ministros do governo, do supremo, o presidente da câmara e do senado e em todas as cidades os prefeitos e presidentes das câmaras municipais. O documento ficou conhecido como Plano Cohen e tinha sido arquitetado pelo Partido Comunista Brasileiro e organizações comunistas internacionais. Cohen era um líder comunista húngaro que tinha chegado ao poder. Era o que Getúlio Vargas precisava para se perpetuar no poder. Pressionou o congresso para decretar o Estado de Guerra e com todos os poderes concentrados em suas mãos iniciou uma implacável perseguição a todos os seus opositores, comunistas ou não. Em novembro de 1937 implantou o Estado Novo uma ditadura de direita que perdurou até 1945. Só após a volta da democracia se soube que o tal  plano era uma fake News plantada por um grupo de militares para alinhar o país ao lado do fascismo internacional.

Heródoto Barbeiro - herodoto@herodoto.com.br

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.