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Noventa por cento dos acidentes de trânsito no Brasil ocorrem por falhas humanas, consequências da falta de atenção e cautela. A conclusão, que merece sérias reflexões, é do Observatório Nacional de Segurança Viária, que também leva em consideração outras duas variáveis: as condições do veículo e da via. Excesso de velocidade, uso do celular, falta de equipamentos de segurança como o cinto ou capacete, ingestão de bebidas ou até mesmo dirigir cansado, são os causadores das ocorrências, muitas delas com mortes e sequelas graves. Tudo isso depois de tantas medidas restritivas e fiscalizadoras representadas pelo elevado número de radares e da redução a praticamente zero na presença de álcool no organismo do condutor, com blitzes em pontos estratégicos.

As estatísticas atestam a morte de quase 50 mil brasileiros todos os anos, vitimados pelo trânsito. É um número alarmante, pois isso nos coloca em destaque, sendo superados nas Américas apenas por República Dominicana, Belize e Venezuela, como atesta a Organização Mundial da Saúde. Mais extenso que o de mortes é o de motoristas, passageiros e pedestres que restam com alguma sequelas: 400 mil ao ano.

A elevação do número de acidentes ou sua oscilação sem grande significado numérico demonstram a ineficiência do método adotado para o controle do trânsito. Governos e autoridades optaram pelas multas e mais recentemente por penas administrativas e até judiciais aos alcoolizados, mas isso não acaba com a mortificina. O que se arrecada com multa, além de ter destinação suspeita, não compensa os gastos hospitalares e a cessação de produção das vítimas. O governo federal tenciona diminuir o número de radares para evitar a chamada “indústria da multa”. Mas o bom seria acabar com o radar móvel, este sim dedicado à arrecadação, e aumentar (e muito) o número de radares fixos em pontos críticos das rodovias e até em vias urbanas, com sinalização eficiente tanto diurna quanto noturna, para que contenham a velocidade em assim, inibam os acidentes.

Uma das causas da violência no trânsito é a impunidade. Se em vez de punir com multas (e arrecadar grandes somas) se aplicasse punição criminal aos infratores, certamente não haveria tanto abuso. O motorista não iria arriscar sua liberdade – um dos bens mais precioso da vida – por falar ao celular ou praticar outras irregularidades ao volante. Hoje ele sabe que, se for levado ao distrito policial, pode ser imediatamente liberado ou no máximo aguardar a audiência de custódia e responder o processo em liberdade, muitas vezes por mortes e grandes danos causados por sua irresponsabilidade. Isso precisa mudar.

Temos de mudar o modelo. Em vez de continuar usando a polícia e equipamentos eletrônicos para vigiar os motoristas e arrecadar, devem os governos e a sociedade alertá-lo da responsabilidade ao conduzir um veículo e cobrar rigorosamente pelos seus deslizes. O próprio motorista, no seu interesse, tem de ser o seu fiscal. No dia que colocarem isso na sua cabeça, o trânsito brasileiro melhora e as estatísticas catastróficas serão coisas do passado.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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