Não vai doer nada
Teodoro era um homenzarrão com barba espessa por fazer e potente voz de trovão. Tirava sarro de todo mundo, se gabava por ter uma saúde de ferro e nunca precisar ir ao médico.
Certa vez Teodoro foi roubar mangas na beira da estrada e acabou se ferindo na canela ao passar por uma cerca de arame farpado.
O ferimento foi fundo. Sua esposa Aurora, ao ver aquilo e temer algo pior convenceu o marido a ir no Pronto Socorro pela primeira vez.
- Um risquinho de nada doutor. É só passar um Merthiolate que sara – Disse Teodoro confiante ao médico.
- Pode até ser, mas vou receitar uma antitetânica só para garantir.
Teodoro ficou mudo por alguns instantes, olhou para o médico:
- Isso é injeção doutor?
- Sim. Uma injeção só para prevenir...
- Não precisa! Eu sou lá homem de pegar tétano? Não precisa não!
Uma enfermeira entra na sala para aplicar e Teodoro encosta-se na parede.
- Doutor, já estou bom. Vamos deixar para lá esse negócio de injeção.
- Não vai me dizer que tem medo de uma injeçãozinha dessas.
Teodoro balança a cabeça para lá e para cá. Fica repetindo:
- Injeção não! Injeção não!
Aurora assustada e constrangida com a reação do marido tenta acalma-lo:
- Teodoro essa injeção não vai doer nada!
- Não vai doer porque não é na sua bunda!
Dois enfermeiros chegam na sala e Teodoro fica mais apreensivo:
- Calma lá gente! Sem violência! Sem violência!
A enfermeira com a injeção na mão se aproxima. Porém, Teodoro consegue fugir e entrar num banheiro. Ficou lá dentro por longo tempo. Após arrombarem a porta perceberam que o homem havia fugido pela janela.
A cidade movimentou na procura de Teodoro para que tomasse a injeção.
Teodoro por sua vez conseguiu fugir e após muitas caronas chegou em São Paulo onde embarcou clandestinamente num avião de carga para a Rússia.
Ao chegar em Moscou, sem blusas, Teodoro pegou uma grave pneumonia e ficou internado por mais de um mês.
Quando a família descobriu seu paradeiro, pediram à Embaixada Brasileira em Moscou para traze-lo de volta.
Ao retornar para a cidade, muitas pessoas o esperavam na rodoviária, inclusive a enfermeira com a injeção antitetânica na mão.
- Senhor Teodoro, agora podemos aplicar a injeção?
Teodoro abaixou a calça na frente de todo mundo e mostrou a nádega:
- Essa injeçãozinha não é nada para quem pegou pneumonia na Rússia e teve que tomar vinte e cinco Benzetacil na bunda!
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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