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No ano passado fui fazer uma palestra em Belém. Enquanto estive lá, ouvi relatos alarmantes sobre a apropriação das riquezas naturais da região por entidades estrangeiras. É raro algum empreendimento nacional patentear produto com origem local que já não tenha registro concedido fora do país. É voz corrente que essa atividade constitui o objetivo de boa parte das ONGs que ali se concentram, acotovelam, disputam e conquistam território. Estimam as autoridades militares que cem mil dessas organizações atuam na região, o que faria dela uma das mais bem cuidadas do planeta. Não é de qualquer nacionalista fanático o cálculo nem o diagnóstico nesta matéria do G1:

“Grande parte dessas ONGs não está a serviço de suas finalidades estatutárias. Muitas delas escondem interesses relacionados à biopirataria.” (Tarso Genro, ministro da Justiça, em 24 de abril de 2008).

Inaceitável a conduta de quem, tendo poder de comunicação, reproduziu a denúncia chocha do ex-ministro como quem relatasse uma banalidade. Onze anos mais tarde, o Brasil com cérebro não lesado aplaudiu calorosamente a iniciativa do governo Bolsonaro para exercer efetivo controle sobre a atividade e recursos disponibilizados a tais grupos pela União. Dinheiro nosso para custear ações contrárias ao nosso interesse? Eu me levanto e aplaudo de pé quem a isso se oponha. A aplicação de recursos públicos – qualquer aplicação – deve obedecer ao interesse do país e não às simpatias dos opositores políticos nacionais e internacionais.

Perante algo tão alardeado e grave, tão provável quanto previsível, qual a matéria que a Globo e outros grandes veículos nacionais produziram, nesses anos todos, em defesa do interesse brasileiro na Amazônia? Que jornalismo é esse que esquece o fato e foge da notícia para cantar qual galo na madrugada da crise? Na entrevista de ontem pela manhã, 22 de agosto, Bolsonaro profetizou o que a Globo News faria mais tarde: a emissora recortou da entrevista o que não lhe servia e torceu o restante de modo a causar dano ao governo e ao país, ou seja, fez exatamente o que o presidente disse que ela faria. A emissora escondeu o prognóstico sobre a má linha editorial que iria adotar e adotou, e apresentou a matéria manipulando o que Bolsonaro falou a respeito do alheamento dos governadores da região e sobre as suspeitas que recaem sobre as contrariadas ONGs. Transformou-as em acusações diretas que ele não fez. Quem não sabe que há corruptos nacionais, inimigos políticos locais e pesados interesses externos atuando no salve-se quem puder regional?

Florestas são lugares expostos a incêndio. Por isso, projetos de reflorestamento operam com vigilância permanente, torres de observação e brigadas de incêndio. Não é possível fazer isso na Amazônia, uma floresta maior do que os 28 países da União Europeia. Neste momento, inúmeros focos incendeiam meio milhão de hectares na Bolívia; e a culpa é do Evo Morales? Há incêndios florestais de grande porte (33 mil quilômetros quadrados) na Sibéria e a culpa é do Putin? Outro de proporções menores, mas de significativo alcance, acontece na ilha Gran Canária, obrigando a remoção de 9 mil pessoas. E de quem é a “culpa”?

Aqui no Brasil, muitos meios de comunicação jogam contra o interesse nacional. Sugerem que ONGs apagam incêndio e zelam pela floresta... Colocam seus rancores acima da verdade e do bem da nação brasileira. Cuidam de colocar fogo e fumaça no colo de quem preside a República há sete meses e adotou, em relação às ONGs da região, providências corretíssimas. Repito: corretíssimas!

Dão oxigênio a Macron e Merkel que perderam as eleições de maio passado. Põem fogo na queimada, alimentam o intervencionismo estrangeiro, servem a mesa ao neocolonialismo e aos anseios pela internacionalização da Amazônia, jogam oxigênio nas chamas de uma crise internacional contra o Brasil. Isso beira a indignidade e a traição. Nossa Amazônia é a Marielle da vez nas telinhas da Globo.

Percival Puggina (74), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.  puggina@puggina.org

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