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Pelo que aponta o calendário, estamos em pleno Carnaval. Mas a realidade sanitária do país (e do mundo) nos impõe um quadro diferente. Desde a virada do Século 19 para o 20, tivemos Carnaval todos os anos em território brasileiro. A festa chegou no Século 16, quando os portugueses trouxeram para cá o entrudo. Pelo que se sabe, essa será a primeira vez que não se realizará em nenhum dos seus segmentos. Os registros históricos revelam que, em 1892, o ministro do Interior tentou transferi-la de fevereiro para junho, argumentando ser aquele mês mais adequado porque fazia frio e haveria menos problema com o lixo resultante. No formato de então, as pessoas saíam às ruas fantasiadas para se atacarem com farinha, água, limões de cheiro e até dejetos humanos, deixando por onde passavam um malcheiroso rastro.  Em 1912, o ministro das Relações Exteriores, Barão do Rio Branco, morreu uma semana antes do Carnaval, O governo decretou luto oficial e transferiu a folia para 6 de abril. Mas o povo não respeitou e, como resultado, naqueles anos, ocorreram dois carnavais.

Embora distantes, os precedentes ainda trazem preocupação neste ano, quando o cancelamento se dá por razões sanitárias e, principalmente, de vida ou morte. Não é àtoa que o poder público está mobilizando suas forças de fiscalização e policiamento para evitar que a desobediência civil promova desfiles ou bailes informais e, com isso, provoque o aumento da infestação. Por mais vontade que tenham, os foliões e aqueles que têm no Carnaval sua fonte de renda, precisam compreender o momento extraordinário. Evitar atitudes que possam potencializar a Covid-19 e prolongar a sua presença em território nacional.

O Carnaval, além de festa popular muito ao gosto do brasileiro, é fonte de renda a milhares – talvez milhões de pessoas – que montam e atuam em bloco, escolas de samba, desfiles e bailes. Movimenta o turismo e a economia das localidades onde os eventos ocorrem. A não realização representa frustração de ganhos. Mas os protocolos sanitários, que proíbem a aglomeração e estabelecem o distanciamento mínimo de um metro e meio entre as pessoas, inviabilizam os acontecimentos carnavalescos, onde a interação entre os participantes é total.

Os empresários de maior porte que atuam no setor já direcionaram suas atividades para a festa de 2022. Vão trabalhar para que, vencida a pandemia, ela retorne com força e, possivelmente, sem muitos protocolos limitantes à sua realização. As autoridades governamentais e sanitárias só poderiam suprimir o Carnaval 2021, visto que estamos com nível alto de infestação e mortes e a pandemia deverá durar pelo menos mais alguns meses, até que a maior parte da população esteja imunizada pela vacina. Recorde-se que os governantes chegaram a ser criticados por, em 2020, nas primeiras informações do alastramento do coronavirus pelo mundo, não terem cancelado o Carnaval. Releve-se, no entanto, que naquele instante ainda não se tinha conhecimento da magnitude do problema.

As localidades, assim como os estados e a própria União, pelos seus órgãos que arrecadam em função do turismo e das demais atividades carnavalescas, têm hoje o dever moral de socorrer a grande massa dos realizadores da festa, que ficou sem sua fonte de renda e subsistência. As empresas da área precisam ser apoiadas – talvez com linhas de crédito – para suportar o período de inatividade, e os trabalhadores ora desocupados, reservadas as proporções e diferenças de atividade, devem ser apoiados com algo parecido ao seguro-defeso, que o governo proporciona aos pescadores no período em que a pesca não é permitida. Questão de isonomia e justiça social...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br

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