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Essa mania de querer estar bem “atualizado” é um péssimo hábito. Ele nos degenera porque a vida humana não se fundamenta no fluxo ininterrupto de novidades banais e escandalosas, mas sim, na solidez da continuidade daquilo que resiste ao tempo e ao fluxo e refluxo dos modismos.

Todavia, a noção de continuidade é solapada pelo culto que o mundo moderno fomenta em torno das novidades. Em nossos dias, um dos mais importantes critérios utilizados para avaliar se algo é bom seria sabermos se ele é novo ou não. Um novo produto, uma nova ideia, uma nova teoria, um rosto novo e assim por diante.

Tanto é assim que não são poucos aqueles que dizem que devemos estar sempre abertos para o novo como se isso, por si mesmo, fosse algo libertador.

Declarar que seria prudente voltarmos nossos olhos para a experiência acumulada pelas gerações que nos antecederam tornou-se algo inaceitável, tido na conta de atitude obscurantista e perigosa, tendo em vista que para os devotos desse credo secularista o que importa é estar atualizado, pouco importando quem está nos atualizando, com o que está fazendo isso e para que estaria realizando esse ato.

Gostemos ou não de admitir, a grande mídia, com sua mediocridade massificante, tornou-se uma espécie de religião invertida que faz do entretenimento a sua liturgia. Liturgia essa que é constantemente atualizada em sua capacidade degradante.

Em se falando nisso, assuntemos um pouco sobre esse ponto: o estar “atualizado”.

Questões atuais não são, necessariamente, temas e assuntos que estão em destaque na grande mídia e que acabam sendo reverberados pela opinião pública. Atual é aquilo que está em ato, que está agindo.

Nesse sentido, aquilo que os meios de comunicação nos apresentam como sendo algo atual apenas o é na medida em que o centro de ordenação de nossa alma for o mosaico caótico que nos é apresentado pela indústria cultural.

Se a grande mídia, pouco importando qual seja o veículo da nossa predileção, for o centro ordenador de nossa alma, não somos nós que agimos; é ela que age através de nós.

Ter a vida pautada pelo que é noticiado - de forma escandalosa ou não - é permitir que interesses e planos de forças externas a nós acabem subjugando a nossa vontade sem que nos demos conta disso, permitindo que sejamos reduzidos a condição de marionetes que creem, piamente, que estão atuando no teatro da vida com total liberdade e autonomia quando, na realidade, estaríamos agindo de um modo profundamente mecânico e servil.

Por isso, considero muito importante, muito importante mesmo, que tenhamos a ousadia de virarmos as costas para o fluxo incessante de notícias que são vomitadas sobre nós e que, por sua deixa, acabam cedo ou tarde nos levando a naufragar num abismo de ansiedade e desesperança.

Agindo assim, querendo estar a par do que os senhores das mídias consideram atual, acabamos, sem querer querendo, deixando de colocar em movimento nosso espírito na direção das questões que, realmente, seriam de suma importância para nossa vida.

Por exemplo, até não muito tempo atrás, a primeira coisa que as pessoas dum modo geral faziam no dia eram suas preces matinais. Hoje, não mais. A primeira coisa que as pessoas fazem é verificar o que está rolando nas redes sociais. Que troca hein?

Outro exemplo. Algumas pessoas dedicam parte de seu tempo livre no aprendizado de algo, seja de uma arte marcial, de uma língua estrangeira, de novas receitas culinárias, ou na leitura duma obra literária; enfim, algo que venha a ampliar o seu círculo de compreensão e sua esfera de ação, da mesma forma que há muitíssimas pessoas que passam o seu tempo livre totalmente absortas em banalidades, que recebem a alcunha de novidades, notícias e informações.

Aliás, quando encontramos com um amigo, a primeira pergunta que frequentemente fazemos é: quais são as novidades? Raramente perguntamos (ou nunca perguntamos): o que você está lendo?

Chega de exemplos. Paremos por aqui. O ponto é esse: atual é tudo aquilo que está em movimento e este pode estar nos levando para alto ou para brejo. Podemos, se for da nossa vontade, ser aquele que está atuando em nossa vida, ou podemos, por desídia, nos fazer de Pilatos e permitir que outros atuem sobre o nosso devir reduzindo-nos à condição dum militante tonto ou dum consumidor conspícuo de qualquer bobagem, ou as duas coisas juntas e misturadas.

Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela -  http://professorzanela.k6.com.br -  dartagnanzanela@gmail.com

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