Saída de Moro, crise de governo
A nota alarmante das últimas horas, que inquieta o país, é a possibilidade do ministro Sérgio Moro sair do governo. Entre outros motivos, são citadas divergências com o presidente em relação ao diretor-geral da Polícia Federal. A hipótese, que preocupa lideranças, como o senador major Olimpio (PSL/SP), líder do partido no Senado, já leva oposicionistas e implicados na Lava Jato a festejarem o acontecimento que, mais do que uma saída de ministro, representaria forte perda no índice de confiança do novo Brasil, já que o Moro é, hoje, mercê do seu comprometimento com a missão, o melhor avaliado de toda a equipe. A própria Polícia Federal, palco dos problemas, já estaria em situação de pré-greve e em encarniçada disputa interna pelas posições de mando, o que é prejudicial a quem tem a missão de governar e – no caso de Bolsonaro – foi eleito no bojo da proposta de mudança e moralização de hábitos e procedimentos.
O momento causa preocupação, pois, não é a primeira vez que os brasileiros elegem um presidente com base as propostas de reforma e austeridade. Em 1960 foi Janio Quadros que, com sua vassoura, prometia varrer as iniquidades e a corrupção e, em 1989, Fernando Collor, cuja promessa era acabar com os marajás. Voluntariosos, os dois caíram em desgraça por não conseguirem manter o time unido. Jânio renunciou sete meses depois da posse e Collor terminou afastado pelo impeachment de 1992. Bolsonaro precisa ter jogo de cintura para capitalizar o que seus pilares (Moro, Paulo Guedes, general Mourão e o próprio major Olimpio) podem oferecer ao governo e neutralizar tudo o que possa provocar maus ruídos e possibilidades de desagregação, inclusive o radicalismo de seus próprios filhos. É bom que o presidente cuide de bem governar e evite fazer interferências pessoais na Polícia e Receita Federal e nos órgãos cuja escolha dos titulares delegou aos ministros da área. Embora possa, até, demitir o ministro, não faça isso em relação aos auxiliares nomeados pelos ministros, pois isso atua em desprestígio e prejudica o trabalho ministerial. Ainda há tempo de manter o bom relacionamento com Moro o que, além de aproveitar a contribuição que o ex-juiz traz ao governo, ainda evita a alegria e possíveis arroubos dos adversários políticos, alguns atualmente trancafiados por crimes de corrupção.
Infelizmente, temos um país instável. A República nasceu de um golpe (contra o imperador) e suportou muitas crises, quarteladas e pelo menos duas grandes quebras institucionais (em 1930 e 64). Sofreu todos os impactos da malfadada disputa entre direita e esquerda, típicos dos tempos da Guerra Fria e, mesmo depois que esses conceitos foram recolhidos ao arquivo da história, ainda temos uma população dividida e até pedidos para que as Forças Armadas intervenham. A nossa democracia é sui-generis e permitiu a sobrevida às formas arcaicas de fazer política. Hoje, a Nação espera que Bolsonaro seja capaz de recuperar o regime democrático (manchado pelos desmandos dos esquerdistas que estiveram no poder) e fazê-lo forte, sem a necessidade de recorrer ao antigamente habitual poder das armas e movimentação de tropas. Não devemos nos desviar da democracia. Temos de executá-la por inteiro e destinada a todos os brasileiros; não à pequena parcela que dela se locupletou em prejuízo dos demais durante as ultimas décadas. Oremos para que todos tenham equilíbrio e a crise não passe de um pequeno problema de inverno, totalmente superado pela primavera que se aproxima...
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br
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