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O flagelo do coronavírus, levado para além de sua dimensão pelos políticos que tentam obter vantagens com a pandemia, fez muita gente se esquecer do 13 de maio, o icônico dia da Abolição da Escravatura. Mas a data não deve ser esquecida, principalmente porque ainda existe muito a se avançar sobre aquilo que ela simboliza. Embora seja crime, o racismo ainda é praticado em diferentes espectros. O homem branco, em sua maioria descendente do imigrante europeu, durante muito tempo menosprezou o negro. Ignorou que ele próprio ou seus antepassados que imigraram, no mais dos casos, o fizeram porque eram marginalizados nas suas terras de origem. Diferente do negro, que foi capturado pela escravatura e, contra sua vontade, levado como mão-de-obra cativa a lugares distantes, inclusive ao Brasil. Também parece não ter aprendido, ou esquecido, que o imigrante branco veio “fazer a América”, como se dizia na época, para ocupar o lugar deixado pelo negro liberto na Abolição. Isso é História, e não há como mudar.

É preciso, no entanto, renovar o presente para melhorar o futuro. O negro, descendente do escravo de outrora, hoje é fruto da exploração de esquemas políticos que, a título de ajudá-lo a sair da desvantagem social (e conquistar o seu voto!), arriscam a conduzi-lo a outro caminho estreito e sem volta. O sistema de cotas que aparentemente favorece, na verdade, pereniza a diferença entre negros e brancos através do risco de transformar eternamente os beneficiários naqueles que galgaram posições “entrando pela porta dos fundos”. Há que refletir se os riscos compensam os possíveis problemas ao diminuir as exigências feitas a este (ou qualquer outro) grupo étnico em concursos, vestibulares e afins. Os facilitados poderão ser, sempre,  menosprezados.

Ainda mais. Somos um país miscigenado. Diz o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que no Censo de 2010, o último realizado, a população brasileira, então com 190 milhões de habitantes, era composta por 47,51% autodeclarados brancos, 43,42% pardos, 7,52% pretos, 1,10% amarelos, 0,43% indígenas e 0,02 que não se declararam. A soma de pardos e pretos indica que 50,94% são afrodescendentes. Só isso é suficiente para demonstrar a inconveniência das cotas étnicas, pois a suposta minoria é, na verdade, maioria. Melhor seria, então, que, se tivessem de existir, as cotas observassem critérios econômicos de pobreza.

Temos de buscar uma nova colocação na questão étnica. Lembrar que, passadas tantas gerações, negros e brancos nada têm além da carga genética em relação aos seus antepassados imigrantes ou escrazivados. Todos somos frutos das condições sociais e ambientais em que vivemos. O eixo da questão racial tem de ser mudado. Cada um deve cultivar o orgulho de sua linhagem, suas belezas potenciais e viver o lado positivo da vida. Não somos um país branco nem preto. Somos uma fantástica nação mestiça que precisa encontrar o seu caminho e recuperar a auto-estima para, com isso, viver bem. Vamos pensar nisso e, cada um, oferecer a sua contribuição para que o grande encontro entre os supostamente diferentes que, na verdade, são iguais, se concretize e todos possam ser felizes e solidários...

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br 

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