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Elogiado espetáculo que aborda a morte e as relações familiares de modo poético volta ao cartaz neste fim de semana no Circo Funcart

A vida como um constante adeus. Este é o tema que atravessa “OVO”, peça do Agon Teatro escrita e dirigida por Renato Forin Jr., com orientação cênica de Marcio Abreu, da Cia Brasileira de Teatro. Desde a estreia, em março, o espetáculo tem emocionado espectadores ao tratar de questões delicadas como a passagem do tempo e das pessoas e ao propor uma estrutura que atualiza personagens da tragédia grega.

O grupo londrinense promove neste fim de semana mais três apresentações: nos dias 31 de julho, 1 e 2 de agosto (sexta, sábado e domingo), às 20 horas, no Circo Funcart (Rua Senador Souza Naves, 2380), com ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Bilhetes antecipados estão à venda na secretaria da Funcart. A montagem teve patrocínio da Prefeitura Municipal de Londrina por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura, o Promic.

Dentro de três caixas, dois atores guardam as dores e os afetos silenciados de uma família. Progressivamente, os intérpretes dão vida a Édipo e Electra, personagens trágicos que, na trama, são irmãos em conflito. A história evoca a zona rural de um Brasil arcaico, onde os dois foram criados.

A peça capta o instante em que Electra chega na cidade, onde Édipo está exilado, para dar a notícia da morte da mãe. “A montagem mostra os desdobramentos imaginários deste encontro tão marcante na vida dos irmãos. Lembranças e pressentimentos confundem-se, trazendo reflexões universais sobre a constante sombra da morte que nos ronda, o desaparecimento das pessoas amadas no percurso da vida, a angústia da passagem do tempo, as incertezas a respeito de Deus e do destino”, explica Renato Forin Jr., que interpreta Édipo.

Passando por questões como estas, o Agon Teatro traz à tona elementos da tragédia clássica dentro de uma estrutura formal contemporânea. Em muitos momentos, os atores despem-se dos personagens, lançando ao público estilhaços de pensamentos sobre o ofício teatral e as relações entre arte e vida. “A minha angústia é que a vida não se repete. Ela está sempre indo, indo, indo. Cada segundo é um nunca mais, você entende? Aqui no teatro é diferente”, diz, em certo momento, Danieli Pereira, atriz que vive Electra.

Outra diferença do espetáculo é o espaço cênico. O público é disposto bem próximo dos atores, em torno de uma arena circular, onde acontecem transformações cenográficas e revelação de pequenas surpresas. “Cenário, figurino, iluminação, sonoplastia e a própria encenação conduzem os espectadores por uma viagem entre o cinza barulhento da cidade e as cores plácidas do campo. É como se a dramaturgia se concretizasse também espacialmente. Não há separação entre texto e cena”, pontua o diretor. Para este deslocamento de paisagens, o Agon Teatro utiliza quilos de palha de arroz, terra, água, caroços verdes, além de quatro caixas de som em torno da arena para a ambientação acústica. A trilha é assinada por José Carlos Pires Júnior, a luz é de Maria Emília Cunha, os figurinos são de Nathalia Oncken e o cenário é uma criação coletiva do Agon.

Construído ao longo de dois anos, “OVO” contou, na última etapa de elaboração, com um auxílio ilustre – a orientação cênica de Marcio Abreu, diretor da Cia Brasileira de Teatro (Curitiba/Rio de Janeiro) e recente indicado ao Prêmio Shell RJ pela montagem “Krum”. “Marcio nos despertou para questões importantes e essenciais em ‘OVO’, como a criação de um convívio e de uma presença em constante fluxo relacional com a plateia, a escuta do próprio texto e o exercício de esquecimento, para que a cada apresentação a peça adquirisse um frescor e um ineditismo” destaca Forin.

O diretor explica que, na montagem, Édipo e Electra são revestidos por referências psicanalíticas e por uma humanidade cotidiana - o que gera o efeito de proximidade com o público. “A peça, no fundo, é bastante simples, no sentido de buscar e focar uma essência do gesto teatral: o efêmero, o que não se repete, o encontro real entre as pessoas - experiências cada vez menos presentes na vida contemporânea”, reflete.

Após as apresentações deste fim de semana no Circo Funcart, o Agon Teatro já tem agenda confirmada no Festival Internacional de Londrina (FILO) em agosto e no Londrix – Festival Literário de Londrina em setembro. No mesmo mês, o grupo leva a montagem a Maringá pelo projeto “Convite ao Teatro”, promovido pela Prefeitura do município.

Renato Forin Jr./Asimp/Funcart

#JornalUnião

Foto: Marika Sawaguti

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