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Etelvino sempre morou na mesma casa, ou melhor, casarão que fora de seus avós, seus pais e agora era sua herança. Havia um grande quintal onde um pomar era muito bem cuidado desde os tempos de seu avô.

O que se destacava no pomar não eram as variadas espécies de árvores frutíferas e sim a grande e imponente paineira de mais de 200 anos.

Etelvino estava noivo de Verônica há mais de cinco anos, porém o casório nunca saia. Verônica queria casar com Etelvino, mas nem por decreto presidencial aceitava morar no casarão.

- Casa velha deixa a gente velha! Quero uma casa mais moderna no centro da cidade!

Por isso Etelvino relutava em casar. Amava Verônica, mas como o único bem que possuía era o casarão, teria que vendê-lo para comprar uma casa nova no centro e essa ideia não passava por sua cabeça, pois adorava o casarão que trazia tantas lembranças boas.

Com isso, o tempo ia passando, sem a venda da casa e sem o casório.

Foi Duarte que viu a primeira vez:

- Etelvino! O que é aquele negócio preso na paineira?

Etelvino olhou o negócio, olhou para o Duarte que sempre pedia limão para fazer caipirinhas.

- Está parecendo uma fruta!

Com o passar dos dias a fruta foi crescendo e outras frutas começaram a brotar nos frondosos galhos da paineira.

- É jaca!

Gritou Duarte num outro dia quando derrubou a fruta com um bambu.

- Como foi dar jaca numa paineira?

A curiosidade de Etelvino logo se transformou na curiosidade da cidade inteira. 

Em pouco tempo muitos curiosos se aglomeravam debaixo da paineira, sobre as raízes.

- Isso deve ser coisa da evolução das espécies!

Dizia um metido à cientista só porque leu alguma coisa de Darwin.

- Está parecendo um caso de dupla personalidade da paineira que pensa ser uma jaqueira!

Dizia um metido a botânico com especialidade em psicanálise.

Alguns especialistas tentaram resolver o mistério que afligia a paineira e sua produção de jacas. Contudo, nenhuma conclusão foi concluída.

Com a popularidade, Etelvino passou a ser uma pessoa bem vista pela sociedade local e seu casarão acabou se tornando um ponto turístico na cidade. Todos queriam conhecer a paineira que dava jaca.

Verônica que outrora queria se livrar do casarão, agora não arredava o pé do local. Aproveitou a fama do noivo e pegou carona, aceitando o casamento e viver o resto da vida no casarão abençoado.

A lua de mel e os primeiros meses de casados foram regados a muita felicidade e doce de jaca...

Coisa que acabou numa manhã de sábado quando Verônica pegou suas coisas e foi embora do casarão.

Etelvino desesperado quis saber o porquê e ela jogou a página de um jornal da cidade vizinha com a manchete:

“Inacreditável! Uma seringueira também começa a dar jaca. E não é só isso, ao invés de látex ela dá vinho tinto doce”.

Etelvino amassou o jornal e lamentou sua sorte:

- Pô paineira! Você bem que poderia dar pelo menos uma cachacinha também! 

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

rodrigojacutinga@hotmail.com

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