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Ubiratan sempre gostou de ser corrupto. Desde criança tirava vantagem dos coleguinhas criando clubinhos exclusivos e cobrando uma taxa de participação, prometendo vantagens e um certo status para quem se tornava sócio. O que não passava de falácias, já que o astuto “Bira”, como era conhecido, embolsava o dinheirinho da turma e logo depois inventava outro tipo de clube mais exclusivo ainda, dizendo que estava investindo o dinheiro embolsado nas melhorias do clube, que nunca aconteciam. 

Na escola, Bira criou um banco da classe, com a promessa de guardar o dinheiro dos colegas, que eram depositados mensalmente, para a festa de formatura no final do ano. Quando finalmente tudo estava contratado para as festividades, Bira simulou que havia sido assaltado e que todo o dinheiro arrecadado fora roubado. Com isso, além dos alunos terem que arcar novamente com os gastos da formatura, tiveram que pagar a parte do Bira, que se queixava que seus pais não teriam condições de ajudar. 

Quando se tornou adulto, sabia muito bem o que queria ser na vida, onde poderia exercer suas habilidades corruptas e se dar muito bem: seria um político!

E conseguiu. Com muitas promessas de dentaduras, botinas e tijolos se tornou um vereador. No legislativo, articulou com seus colegas e ganhou a presidência da Câmara. Com a caneta na mão, superfaturava materiais usados na Casa, abastecia seus carros particulares com recursos público e realizava viagens com a família e amigos com dinheiro do povo.

Com grande poder de articulação, fez amizades com outros corruptos nas esferas maiores e fora eleito deputado estadual. 

Corrupto como ele só, percebeu que se juntando a alguma bancada poderia ter ainda mais dinheiro em seu bolso, ou cueca, como algumas vezes precisou esconder dinheiro de corrupção.

Fez logo parte do todas as bancadas da Assembleia e em todas elas conseguia tirar vantagens dos lobbies que fazia junto a empresas, grupos e setores interessados em se dar bem.

Com toda essa influência, não tardou para se tornar deputado federal, expandindo suas negociatas e se corrompendo cada vez mais.

Até que ouviu em uma certa ocasião, que a corrupção havia acabado naquele país. 

Ubiratan, ficou muito preocupado. Como poderia de uma hora para outra, sem mais nem menos, como num passe de mágica, toda a corrupção acabar?

Depois de todo trabalho de uma vida inteira, como iria se virar dali em diante? Como seria a vida numa terra sem corrupção?

Ubiratan entrou em depressão por alguns meses. Sinceramente achou que sua carreira havia chegado ao fim.

Contudo, Ubiratan voltou a sorrir!

O corrupto profissional descobriu que tudo não passou de um mal entendido. Na verdade, não é que a corrupção havia acabado, e sim, as investigações de corrupções é que haviam acabado. 

Agora, o Bira está feliz da vida, praticando sua corrupção de cada dia. Inclusive, hoje ele faz parte do alto escalão do governo.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores - rodrigojacutinga@hotmail.com

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