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Em um país onde grande parte da população é formada por afro-brasileiros, ainda é raro encontrar rostos de mulheres negras nas revistas, na televisão e na publicidade em geral. Com o intuito de questionar e fazer refletir sobre essa cultura imagética de exclusão, além de valorizar a beleza da mulher de ancestralidade africana, o artista, fotógrafo e educador Marcos Antônio da Costa iniciou o projeto Negras Faces Londrinenses. A ação consiste em uma exposição de fotografias, retratando o rosto de 38 mulheres negras, que o artista leva a escolas da cidade, visando exibi-las aos estudantes da 6ª série do ensino fundamental até a 3ª série do ensino médio. O projeto já passou pelos Colégios Albino Feijó e Professora Lúcia Barros Lisboa, e será levado ao Marcelino Champagnat (4/9), Antônio Moraes de Barros (8/9), Wistremundo Garcia (10/9), Olympia Tormenta (12/09) e Vicente Rijo (15/9).

Além de mostrar os retratos aos alunos, Costa busca realizar ações educativas com os estudantes, por meio de discussões. “A intenção é provocar a reflexão nos jovens. Estimular a comunicação e a troca de ideias. Queremos que eles tenham uma visão crítica das imagens, que pensem sobre o que as fotos dizem, assim como sobre a invisibilidade da mulher negra na mídia”, conta.

Segundo o fotógrafo, os estudantes têm reagido de maneira positiva ao conteúdo apresentado. “Estou surpreso com a receptividade deles. Durante os nossos bate-papos, eles se mantêm atentos, com o olhar fixo. Muitas crianças já têm um entendimento de questões sociais como preconceito, algumas até já o sofreram. Há alunos que ficam motivados, querendo saber como combater o racismo”, explica.   

O autor

Marcos Antônio da Costa é formado em Artes Cênicas e Artes Visuais, e também fez estudos na área de Estética da Fotografia. Desde 2003, trabalha com projetos artístico-educacionais que mesclam várias mídias, e que buscam promover a diversidade étnico-cultural. O artista já tinha abordado a questão da representatividade do negro nas artes, no campo do teatro, trabalho pelo qual foi premiado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A ideia que originou o projeto Negras Faces Londrinenses veio do meio acadêmico. “A inspiração surgiu ainda na faculdade de Artes Visuais, quando tive contato com o trabalho de Sebastião Salgado. Interessou-me muito o conceito de fotografia social”, conta Costa.
No decorrer da graduação, o artista estudou a falta de representatividade da mulher negra nos meios de comunicação, e fez sua monografia de conclusão de curso sobre este assunto. O projeto foi realizado entre 2011 e 2012, e envolvia retratos de mulheres afro-brasileiras.

Divulgação no exterior

O trabalho de Costa chamou a atenção do grupo catalão Asociación Cultural Moviment Art Contra la Barbàrie, que o convidou para expor seu projeto em Barcelona. Com o apoio da iniciativa “Intercâmbio e Difusão Cultural”, do Ministério da Cultura do Brasil, o fotógrafo realizou uma exposição na Espanha. Também fez uma apresentação teórica na Associação  dos Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na Catalunha. De lá, foi convidado para divulgar seu trabalho na França, e expôs seus retratos na Universidade Paris VIII. “O projeto teve grande aceitação na Europa. Inclusive, despertou certa surpresa nos europeus, que não imaginavam que pudesse haver preconceito num país tão etnicamente diverso quanto o Brasil”, relata o artista.

Após retornar de sua passagem pelo exterior, o fotógrafo decidiu levar sua exposição a escolas de cidades do norte do Paraná como Astorga, Cambé e Rolândia. Para prosseguir com o projeto, Costa inscreveu-o no Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). Com o patrocínio do Promic, pôde trazer o “Negras Faces Londrinenses” a Londrina. “Acredito que o artista deve arregaçar as mangas e levar arte e conhecimento ao público. Toda forma de arte é uma ferramenta política”, conclui o autor do projeto.

Belezas sutis

As mulheres retratadas por Costa são em sua maioria pessoas comuns da cidade, que ele encontrou durante o cotidiano. Na composição das imagens, o fotógrafo buscou ir além da aparência exterior. “Procurei retratar belezas sutis, emoções que estavam no interior das mulheres fotografadas”, explica.

Segundo o artista, participar do projeto foi uma experiência inédita para as mulheres selecionadas. “Elas disseram que foi um presente, que trouxe orgulho para elas e as fez sentir valorizadas. Isso para mim é o mais importante, pois essas mulheres fogem do padrão eurocêntrico tão presente na mídia”, diz.

Núcleo de Comunicação/PML
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