Inclusão digital: mudanças no Brasil, mas longe do ideal
O Brasil nunca esteve tão conectado à internet quanto em 2020, mas esse dado, positivo numa primeira análise, pode enganar quem não se aprofundar a respeito.
Os smartphones e tablets se tornaram tão importantes que passaram a impactar uma série de indústrias e mercados, inclusive. Um dos investimentos mais fortes de marcas de todo tipo são apps mobile especializados para venda; canais de TV e produtoras de filme apostam em streamings que sejam mobile-friendly e alguma das mais comuns perguntas e respostas do bet365 e de outros sites do tipo têm relação ao funcionamento do serviço em versão móvel.
Mas a verdade é que a acessibilidade, embora maior, ainda não chegou para milhões de pessoas carentres, e isso tem especial impacto em crianças e adolescentes de uma geração que praticamente cresceu em meio à internet e o ambiente virtual que ela proporciona.
Além disso, em tempos em que educação à distância passou de opção a necessidade em muitos casos, esse fator pode agravar diferenças já sérias.
Mudanças de hábito no consumo de internet
É difícil definir a internet por si só como “produto a ser consumido”, porque a web ao mesmo tempo é um meio para um fim, mas também uma meta a ser alcançada, e uma que muitas vezes depende diretamente de poder financeiro para ser atingida.
Isso significa que, naturalmente, quem pode acessar a internet muitas vezes é quem tem as condições de comprar os aparelhos requeridos para isso. O campeão do momento é o celular. Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, o principal meio de acessar a web passou a ser o mobile, e isso já em 2017.
Hoje em dia o número é ainda maior. Os smartphones somam 97% como forma de os brasileiros navegarem na internet. Esse dado significa não necessariamente que os computadores estejam saindo de uso (eles ainda representam 50% das conexões), mas sim que o celular se tornou a forma majoritária – em outras palavras, mesmo quem usa o computador, também acaba usando o celular.
Sendo o aparelho mobile muito mais barato do que um desktop ou laptop, principalmente por vir em versões de entrada que são plenamente acessíveis a quem tem menos dinheiro e cumprem as funções básicas – redes sociais e comunicação, via de regra –, esses números ficam mais fáceis de compreender.
Diferenças sociais impactam
O crescimento do acesso, infelizmente, não significa que ele esteja acontecendo de modo igualitário. O primeiro fator é muito simples: dinheiro. A mera conexão da internet pode representar um gasto enorme para uma família ou indivíduo de baixa renda, e acaba sendo algo não visto como prioritário, o que é perfeitamente compreensível.
Esse tipo de “falha social” expõe algumas chagas sérias e que se viram ainda mais nítidas em tempos de pandemia, principalmente no que diz respeito à educação.
Com o fechamento de escolas e faculdades, e solução de diversas instituições, inclusive públicas, foi a adoção do EAD – ensino à distância. Embora bem-intencionado e válido, é uma ideia que potencialmente agrava diferenças sociais de acesso, uma vez que alunos de baixa renda muitas vezes simplesmente não tem o equipamento necessário para assistir às aulas.
Além do custo considerável de computadores e celular, existe o simples fator acesso, isto é, o quanto a conexão de cada aluno é boa, e se a banda assinada é suficiente para que as aulas sejam assistidas e, principalmente, assimiladas com a devida qualidade.
Pouco adianta ter acesso a uma sala de aula virtual se a explicação está numa videoconferência travada, inaudível ou com resolução tão baixa que eventuais escritas sejam ilegíveis.
Como ainda é cedo para saber quando a pandemia vai permitir o retorno, ainda que parcial, às aulas de todos os níveis de ensino, pode ser de começar a se preocupar com a relação direta que ela terá no futuro profissional e acadêmico desses alunos, que podem estar ficando para trás em mais um “front social”, por assim dizer.
Pode ser, por outro lado, que a pandemia e suas consequências tristes sirvam como aprendizado sobre as mudanças que podem e devem ser feitas a curto e longo prazo. Colocá-las na prática, porém, pode ser um pouco mais complicado do que é falar sobre elas.
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