Digite pelo menos 3 caracteres para uma busca eficiente.

Criação de oportunidades é o foco da iniciativa da instituição, que vai além do assistencialismo

A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), mais conhecida como o nome de “Vicentinos”, é reconhecida pela atuação junto às comunidades carentes em todo o Brasil. Hoje, auxilia mais de 74 mil famílias em situação de necessidade em todo o território nacional, além de estar diretamente ligada à direção de mais de 500 lares filantrópicos para longa permanência de idosos. Mas, em tempos difíceis da pandemia, nos quais muitos brasileiros perderam o emprego e encontram dificuldades na reinserção ao mercado de trabalho, a instituição tem se destacado também por seus Projeto Sociais voltados à capacitação e impulsionamento da carreira dos assistidos.

“Nós, da SSVP, atuamos com muita fé no futuro dos assistidos. Por isso, apostamos na força transformadora da capacitação dessas pessoas e no impulso inicial para que iniciam um projeto de trabalho, uma carreira. Algo que sempre desejaram, mas não haviam tido oportunidade até então”, explica Ester de Padua, gerente administrativa do Conselho Nacional Brasileiro da SSVP.o Conselho Nacional Brasileiro da SSVP.

Os Projetos Sociais da SSVP chegam até os cantos mais distantes do país. Oferecem novas ferramentas para jardineiros, cabelereiros, cozinheiros e artesãos, entre outros, além de capacitação em informática, por exemplo. “Nosso objetivo é expandir o horizonte das pessoas, oferecendo oportunidade”, complementa.

Anualmente, a SSVP convida a comunidade a inscrever Projetos Sociais capazes de mudar a realidade de famílias assistidas em todo o país. As Unidades Vicentinas de cada cidade apuram e escrevem os projetos, submetendo aos Conselhos Metropolitanos, que os inscrevem nacionalmente. Em 2020, foram cerca de 40 projetos contemplados e colocados em prática. Neste ano, os projetos terão investimento de R$ 302 mil ao todo. O período de inscrições está aberto até o final de maio e, após isso, será feita a seleção. A submissão dos projetos é realizada pelas unidades vicentinas.

“Em tempos de crise, precisamos ser inventivos e ter iniciativa. Buscamos transformar realidades, por isso encorajamos o empreendedorismo, para que cada assistido seja protagonista de sua mudança e de seu futuro”, afirma Ester.

Um dos exemplos de sucesso dos projetos sociais desenvolvidos com a ajuda da SSVP está o “Fazendo Bolo”, que ajudou a mineira de Governador Valadares, Gilmara Alves da Fonseca a realizar o sonho de ser confeiteira. Indicada pela Conferência Meninos Jesus de Praga, ela, que era assistida com seus seis filhos há cerca de cinco anos, conseguiu se profissionalizar com o projeto iniciado em 2018.

O vicentino Jeferson de Castro Ferreira era na época presidente da Conferência e acompanha até hoje a história da confeiteira. “Ela tinha os seis filhos e precisava de ajuda. Com o projeto conseguiu um forno a gás, botijão e foi se profissionalizando. A ponto de hoje ela ter reformado a cozinha com dinheiro do lucro dos bolos, ter comprado novos aparelhos”, conta.

Ele ainda lembra que para a reforma da cozinha a Conferência ajudou com materiais e ela pagou a mão-de-obra. “Lá no comecinho do projeto também tivemos a ajuda da Conferência Santa Inês (CP São José) e da Conferência Santa Clara (CP Santo Antônio), que compraram batedeira semi-industrial, liquidificador profissional, vasilhames, talheres”.

A confeiteira hoje não recebe mais a cesta básica mensal dos vicentinos. O projeto lhe permitiu adquirir renda e poder sustentar sua família com dignidade. “O projeto mudou tudo na minha vida. Me profissionalizei, mudou minha autoestima. Era meu sonho ser confeiteira, cuidar das crianças e trabalhar em casa. Os vicentinos são tornaram ele possível”, agradece a Gilmara, que hoje faz doces, bolos e salgadinhos que lhe geram renda e enchem de beleza e doçura a vida de seus clientes.

Dentre os projetos selecionados no primeiro semestre deste ano está o “Embelezando a Vida”, que será realizado na cidade de Umuarama, no Paraná, a pedido da Conferência São José Operário. O projeto irá beneficiar uma família, composta pelos pais e três filhos (4, 8 e 16 anos), que já é assistida pela Conferência há cerca de quatro anos e irá possibilitar a transformação da garagem da casa da família em um salão de beleza. Atualmente, a esposa atua como cabelereira, indo até a casa das clientes e sem o aparato necessário profissional.

O confrade Ivan Belice, que acompanha de perto o projeto, explica que o pai da família é pedreiro e está trabalhando na obra de adaptação da garagem para que a esposa possa ter o seu próprio salão. “Depois do projeto aprovado, conseguimos a doação dos materiais de construção e o próprio pai de família está trabalhando. Com isso, as três crianças, além de terem a oportunidade de viver com maior dignidade, poderão visualizar que seus pais, com o próprio trabalho e esforço, conseguem gerir a família, produzindo, através do ganho gerado por seu trabalho, não só o sustento material, mas a força de trazer de volta a alegria dos pais em poder gerir sua família”, define.

A cabelereira assistida conta que não tinha nem os equipamentos profissionais, como secador de cabelos e prancha, nem os produtos para fazer os atendimentos em domicílio. “O salão ainda não está pronto, mas agora, graças aos vicentinos, vou à casa das clientes com o meu material e os meus produtos. Antes era uma mochilinha com pouca coisa e que, por não serem profissionais, faziam meu preço ser mais baixo e eu demorar mais tempo. Agora não. Os vicentinos já me ajudaram tanto. Só tenho que agradecer. Está sendo uma benção participar do projeto. Quando o salão funcionar sei que vai mudar a vida da minha família. Já está mudando, meu marido, que é pedreiro, se animou tanto que vai fazer um curso de corte para me ajudar a atender os homens. Meus filhos terão mais qualidade de vida, vamos andar com as nossas próprias pernas, sei que a renda vai aumentar, que as clientes vão aumentar”, afirma a beneficiada.

Ter a certeza que o trabalho da SSVP Brasil está sendo desenvolvido conforme seu fundador gostaria é o que motiva o Conselho Nacional a manter e ampliar o número de projetos beneficiados. Há uma frase de Frederico Ozanam, que segundo a consocia Ester, define o sentimento resultante de cada projeto em ação: “Tenho muito bem a fazer, e com isso sinto nova energia para trabalhar”.

O casal Damião Vieira Lopes (54 anos) e Maria Lurdes Alberto (51 anos) mora em Mendes Pimentel e está sendo ajudado com a aquisição de equipamentos e materiais para fazer peças de artesanato em madeira.

Damião era lavrador e por motivos de saúde teve que parar as atividades. Há cerca de 10 anos começou a fazer colheres de pau, com ferramentas desenvolvidas por ele e madeira que ele procurava pela cidade. Tempos depois, sua mulher começou a ajudá-lo e fazer outras peças, como baús, santuários.

Como eram assistidos há anos pela SSVP, conversaram sobre a necessidade de melhorar a produção. Foi então, que a consócia Leni do Carmo Sousa teve a ideia do Projeto e o inscreveu.

A consócia também entrou em contato com o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) da cidade para que eles pudessem participar da feira de artesanato, que deve ocorrer após o final do distanciamento social causado pela COVID-19.

Com a pandemia, a compra dos materiais deu uma atrasada, mas já está acontecendo. São madeiras, tintas, lixas, lixadeiras e outros equipamentos necessários para facilitar a produção.

“Com essa ajuda, quando o equipamento e o material chegarem, poderemos produzir mais e vender mais, para melhorar a renda da nossa família”, comemora o assistido Damião.

Renato Lima, presidente global da SSVP, também lembra que é importante adotar uma prática caritativa que traga resultados concretos para os mais necessitados. “A geração de emprego e de renda é a maneira mais adequada de quebrar o ciclo da pobreza”, afirma.

A SSVP está presente em 153 países. Por conta das medidas de isolamento social em combate à pandemia, a instituição vem adaptando seu formato de atuação desde o ano passado, sem deixar de oferecer assistência aos necessitados e de capacitar novos membros.

 “Diante de todos os desafios vividos no ano passado, reformulamos os formatos de visitas, que são rápidas, somente para entrega de mantimentos e itens de higiene, mas não deixamos de estar à disposição para ouvir as necessidades da comunidade, incluindo propostas para os projetos. Valorizamos os sonhos e estimulamos a dedicação de cada um. Para isso, é importante olhar atentamente para as condições em que se encontram”, finaliza.

Na cidade de São Francisco (MG), graças aos recursos arrecadados pela Contribuição da Solidariedade, três Projetos Sociais puderam ser contemplados e já foram entregues aos assistidos.

A iniciativa visa gerar emprego e renda aos assistidos, oferecendo resultados concretos em curto e médio prazos, a fim de quebrar o ciclo da pobreza e construindo um futuro para essas famílias.

Conheça os assistidos e respectivos projetos:

Maria Da Glória Dias Da Silva, da Comunidade de Travessão, assistida pela Conferência Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, contemplada com um carrinho para venda de cachorro-quente.

Daiane Ribeiro De Souza e Fabio Rodrigues Cordeiro, assistidos pela Conferência São Felix, contemplados com um carrinho para venda de pasteis.

Maria Das Dores Pereira Nascimento, assistida pela Conferência São José, contemplada com um carrinho para venda de bolos e doces.

Um dos exemplos de sucesso dos projetos sociais auxiliados pela SSVP é o “Projeto Arco Íris”, de Porto Seguro, na Bahia. Com a ajuda recebida do Conselho Nacional do Brasl, neste ano, além de toda a ajuda da comunidade, o projeto pôde reformar seu espaço, utilizado para ensino à comunidade.

O projeto Arco íris teve início em 2004, quando a consócia Lícia, até então moradora do Rio Grande do Sul, mudou-se para Porto Seguro (BA) e passou a integrar as ações sociais da Igreja local, e, posteriormente, a Conferência Nossa Senhora do Brasil.

Uma vez em contato com a comunidade carente local, a consócia Lícia notou que muitos não tinham acesso a qualquer forma de capacitação profissional, o que os deixava com muitas restrições na busca por emprego e sustento às famílias.

Diante desse cenário, ela teve a ideia de criar um espaço que oferecesse, voluntariamente, cursos básicos para iniciação em costura, bordado, culinária, entre outros. “Com o tempo, fomos diversificando as atividades. Já tivemos aulas de espanhol, inglês, educação física, até oficina para produção de sabonete, para que as pessoas possam gerar sua própria renda. Realmente é muito gratificante ver o projeto dando frutos, criando futuro e possibilidades”, explica Lícia.

Após 15 anos dedicando-se ao Projeto Arco Íris, Lícia teve que voltar ao Rio Grande do Sul, mas as atividades do projeto continuam a todo vapor, integrando vicentinos de diferentes Conferências da cidade.

A consócia Michele Bandeira, da Conferência Nossa Senhora da Saúde e vice-diretora do projeto Arco Íris, foi quem inscreveu a iniciativa no CNB para solicitar auxílio para a reforma em 2020 e conta sobre a ideia. “As doações que recebemos são utilizadas para pagamento de custos básicos como água e luz. Por esse motivo, recorremos ao edital do CNB. Precisávamos de materiais para equipar as salas de aulas e a própria infraestrutura do ambiente. Foi muito gratificante poder contar com o auxílio e reformar o espaço, que será dedicado a aulas de reforço escolar em matemática e inglês, além de capacitação profissional, como preparo para limpeza industrial e mecânica. Ainda pretendemos montar uma sala para atendimento de enfermagem aos assistidos”, explica.

Emília Zampieri/Asimp

#JornalUnião

Utilizamos cookies e coletamos dados de navegação para fornecer uma melhor experiência para nossos usuários. Para saber mais os dados que coletamos, consulte nossa política de privacidade. Ao continuar navegando no site, você concorda integralmente com os termos desta política.