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Segundo familiares de crianças com TEA, elas podem ter crises dentro do veículo, com gritos e até agressões, forçando paradas emergenciais

A possibilidade de regulamentar o uso de adesivos de identificação em veículos que transportem pessoas com autismo foi debatida ontem (29) em reunião pública coordenada pela Comissão de Acessibilidade e Direitos da Pessoa com Deficiência da Câmara de Londrina. O evento, realizado na Sala de Sessões do Legislativo, foi organizado por solicitação da Associação dos Amigos e Moradores do Centro Histórico de Londrina e do Grupo de Mães e Amigos dos Autistas de Londrina.

Presidente da Comissão de Acessibilidade da Câmara, o vereador Giovani Mattos (PSC) explicou que a identificação é necessária para sensibilizar outros motoristas e autoridades de trânsito sobre as necessidades deste grupo de pessoas. "Desde que fomos contatados, temos abraçado essa causa, mas é importante ouvirmos as mães e as entidades, pois elas têm a vivência. Nossa intenção não é sair daqui com um projeto pronto, mas darmos o pontapé inicial para que essa causa ganhe mais um ponto na cidade de Londrina. Nossa intenção é trazer mais compreensão das pessoas com as famílias autistas", afirmou o parlamentar, que atua na comissão ao lado dos vereadores Santão (PSC), como vice-presidente, e Matheus Thum (PP), como membro.

O psicólogo Victor Rodrigo Tardem Delefrati, que atende crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), explicou que elas podem ter crises dentro do veículo, com gritos, movimentos bruscos e até agressões, o que obriga o pai ou a mãe, muitas vezes, a diminuir a velocidade do carro ou estacionar em locais irregulares. "Muitas crianças com autismo têm muita dificuldade com alterações na rotina. Há casos de crises porque o pai precisou fazer outra rota para ir à clínica. Uma coisa tão simples quanto alterar um caminho que se mantém todos os dias pode levar a comportamentos agressivos. [...] É importante também entender que essas crianças sentem mais do que a gente alguns estímulos, como os auditivos. Elas podem ficar muito incomodadas por ruídos que passariam despercebidos entre nós. Uma moto que passa fazendo barulho pode provocar um comportamento agressivo", exemplificou.

Mãe de um rapaz de 14 anos com autismo severo, Kely Fernanda Teixeira contou que precisou colocar uma grade para isolar o filho no banco traseiro do carro, um equipamento semelhante ao usado em viaturas policiais. "Depois que meu filho cresceu e saiu da cadeirinha, nunca mais consegui fazer ele ficar no cinto ou no banco de trás. Ele simplesmente abria a porta e tentava fugir com o carro andando. De uns anos para cá, eu comecei a dirigir com uma mão só, tentando contê-lo. Chegou a um ponto que precisei ser socorrida no trânsito. […] Ninguém quer ter um filho atrás de uma grade de viatura, mas são várias situações que nos obrigam a isso", afirmou.

Segundo ela, muitas vezes falta sensibilidade aos agentes de trânsito para lidar com ocorrências como essas. "Um dia eu parei em um local inapropriado porque meu filho estava em crise, ele me mordia e eu tentava contê-lo. Uma agente da CMTU [Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização] me abordou e perguntou se eu não tinha visto que estava parada em local proibido. Eu disse a ela que meu filho era autista e estava em crise, mas ela falou que isso não justificava a situação. Eu tenho um pacote de multas", disse. Kely também chamou a atenção para dificuldades vivenciadas no transporte coletivo por famílias de autistas. Segundo ela, como a pessoa com TEA não apresenta nenhuma característica física que indique a condição, outros passageiros questionam o uso dos assentos preferenciais.

Além de representantes de entidades de apoio a autistas, participaram da reunião membros do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, do Conselho Tutelar e de órgãos públicos relacionados ao trânsito, como Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU). Também estiveram presentes representantes das concessionárias de transporte coletivo Transportes Coletivos Grande Londrina (TCGL) e Londrisul. Diretor de Operações da TCGL, Daniel Martins solicitou apoio das associações representativas e dos profissionais presentes no evento para a elaboração de um treinamento dos motoristas de ônibus a respeito do autismo.

Sobre as possibilidades de atuação legislativa em favor da causa, o vereador Santão (PSC), que é policial rodoviário federal, ressaltou que a legislação de trânsito só pode ser alterada pelo Congresso Nacional e que a Câmara de Londrina poderia trabalhar no sentido de conscientizar a população sobre as necessidades das famílias de pessoas com TEA. Presidente da Comissão de Acessibilidade, Giovani Mattos afirmou que as pessoas interessadas em enviar sugestões podem protocolar as propostas até a próxima sexta-feira (6 de maio) no Departamento de Documentação e Informação da Câmara ou no site do Legislativo, na aba Cidadania.

Marcela Campos/Asimp

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