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Quase 5 milhões de brasileiros usaram alguma droga ilícita nos 12 meses anteriores à uma pesquisa realizada pela Fiocruz; dependência química deve ser tratada como problema de saúde pública

A psiquiatra Alessandra Diehl é a nova diretora técnica do Hospital Vida, que é fruto da reestruturação da Clínica Psiquiátrica de Londrina. O complexo é essencial para compor a rede de assistência a pessoas portadoras transtornos mentais graves tais como a esquizofrenia e a bipolaridade, assim como dependentes químicos. O serviço contempla 285 leitos (265 dirigidos ao SUS e outros 20 para atender pacientes de convênios e particulares). O empreendimento recebe pacientes de todas as regiões do Paraná e oferece serviço de caráter social no Estado.

No cargo de diretora técnica do Hospital Vida, Alessandra Diehl espera somar esforços no trabalho de reestruturação do complexo. O plano de gestão do novo grupo, capitaneado por Felipe Urbanski e Sandro Leão,  que assumiram a transição junto à Associação de Amigos e Familiares de Portadores de Doenças Mentais, engloba os seguintes aspectos: gestão dos serviços por meio de entidades sem fins lucrativos; auditoria externa independente; implementação de balanço anual para prestar contas aos órgãos reguladores e à sociedade; reformulação do corpo clínico e técnico da entidade; reformulação do programa de tratamento; abertura institucional para convênios com universidades e faculdades para ampliar as pesquisas de extensão e as oportunidades de estágio; abertura de parcerias público-privadas e trabalho em rede.

O novo sistema de gestão, bem como o modelo de tratamento da dependência química do Hospital Vida foi apresentado na última semana para o Conselho Municipal de Saúde de Londrina.

Alessandra Diehl explica que o novo nome do Hospital está em sintonia com a proposta do estabelecimento, que é salvar vidas. “A dependência é um problema grave e faz 500.000 vítimas por ano em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Entendemos que o uso de substância é um problema de saúde pública, que não deve ser encarado apenas na esfera criminal. Por isso, defendemos e lutamos para a realização de melhorias no atendimento aos dependentes e redução dos danos sociais causados pelo consumo de drogas. Queremos ajudar pais e filhos, oferecendo um tratamento digno e de qualidade. Os dependentes e seus familiares precisam de apoio nesta longa jornada que é a busca da recuperação”, diz.

Ela acrescenta que o preconceito enfrentado pelos dependentes é um bloqueio para a recuperação. “Muitos deles são chamados com adjetivos pejorativos como ‘noiados’, ‘viciados’ e até de vagabundos, mesmo dentro da estrutura familiar. Toda a nossa sociedade precisa compreender que o caminho das drogas, algumas vezes, é consequência de problemas de saúde mental. A maioria das pessoas experimentam substâncias psicoativas como forma de aliviar algo que não vai bem ou mesmo por curiosidade, para se sentir aceito em um grupo. Continuar usando já nem sempre é uma decisão consciente, devido à falta que o seu corpo sente com ausência dessas drogas”, complementa.

Ricardo Justino Flores, presidente da Associação de Amigos e Familiares de Portadores de Doenças Mentais, acrescenta que a nova equipe que assume o Hospital Vida se propõe a transformar o local. “Vamos tentar sanar as dificuldades que porventura vierem a ser impostas para oferecer o melhor tratamento para pacientes e familiares. Estamos certos de que os trabalhos não serão uma ilusão sem futuro, mas uma realização. Neste caminho, contamos com a presença da Dra. Alessandra Diehl, trazendo experiências hospitalares em conjunto com sua formação acadêmica e seu avental branco, que é parte do necessário cinzel para reestruturamos o Hospital Vida”, afirma.

A Associação tomou ciência dos problemas da Clínica Psiquiátrica de Londrina no mês de julho, quando os membros Felipe Urbanski e Sandro Leão fizeram um benchmarking nos hospitais de psiquiatria do Paraná. Na oportunidade, eles verificaram que a unidade de Londrina era uma das três melhores do Estado no quesito infraestrutura. No entanto, o complexo estava em processo de fechamento. “Nessa ocasião, fomos procurados pela prefeitura e antiga diretoria com o desafio de assumir essa gestão e fazer a reestruturação dos serviços. Como já temos expertise, adquirida no trabalho de muitos anos no Hospital San Julian, que fica em Piraquara, no sul do Paraná, aceitamos contribuir com essa causa. Levaremos o nosso know-how, por meio da atuação em uma associação sem fins lucrativos, buscando a transparência e a aproximação com a sociedade civil na nova administração”, conta Urbanski.

Panorama brasileiro

Uma pesquisa da Fiocruz, concluída em 2015 e divulgada em agosto de 2019, faz um retrato do uso de drogas, lícitas e ilícitas, no Brasil. O estudo ouviu mais de 17 mil pessoas em mais de trezentos municípios. O levantamento revela que 46 milhões de brasileiros de 12 a 65 anos beberam pelo menos uma dose de álcool nos 30 dias anteriores a pesquisa e quase 5 milhões usaram alguma droga ilícita 12 meses antes do questionário.

Confira as principais informações levantadas pelo estudo:

    46 milhões de brasileiros de 12 a 65 anos beberam pelo menos uma dose de bebida alcoólica nos 30 dias anteriores a pesquisa.

    Dois milhões e trezentos mil apresentaram comportamentos de dependência do álcool.

    Quase 5 milhões de brasileiros (4,9 milhões) disseram que usaram alguma droga ilícita nos 12 meses anteriores à pesquisa. E o percentual é maior entre jovens de 18 a 24 anos.

    A maconha foi a droga ilícita mais consumida (7,7% usaram pelo menos uma vez na vida).

    A cocaína foi a segunda droga ilícita mais consumida (3,1% disseram que já usaram)

    1 milhão e 400 mil pessoas entre 12 e 65 anos disseram que usaram crack alguma vez na vida (0,9% dos entrevistados).

Giovana Chiquim/Asimp

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