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"Tratamento de lixiviado de aterro sanitário por reagente de Fenton". Este projeto de pesquisa do Departamento de Construção Civil do Centro de Tecnologia e Urbanismo (CTU), da Universidade Estadual de Londrina, busca melhorar o tratamento do efluente, mais conhecido como chorume, para reduzir os riscos ambientais. O lixiviado de aterro tem alta concentração de matéria orgânica, de nitrogênio e de nitrogênio amoniacal, considerados altamente poluentes. O nitrogênio amoniacal, por exemplo, tem propriedades corrosivas.

O projeto é coordenado pela professora Deize Dias Lopes, que pesquisa o tratamento de chorume desde 2004 e participa, há quase 20 anos, do monitoramento de aterros em Londrina e região. O projeto tem também a participação do professor Caio Victor Lourenço Rodrigues, que pesquisou o chorume em seu Mestrado em 2011. "Já conseguimos bons resultados, ajustando o PH, o que é importante para um tratamento em larga escala", afirma Caio Rodrigues, que é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil do CTU.

O reagente de Fenton é uma fórmula de peróxido de hidrogênio e um catalisador de ferro, usada para oxidar impurezas ou águas residuais. O fenton também é usado para destruir compostos orgânicos, principalmente, o tricloroetileno e o percloroetileno. O reagente já é aplicado no lixiviado de aterro sanitário, em processo físico-químico, na remoção de matéria orgânica resistente. "A gente entende que é viável porque é um reagente de baixo custo, indicado para tratamento em larga escala", afirma o professor.

Caio explica que o reagente de fenton no tratamento de lixiviado de aterro é eficiente, mas apresenta um importante efeito colateral: a geração de grande quantidade de lodo. Por isso, os pesquisadores da UEL estão debruçados sobre o desafio de reduzir o lodo quando do tratamento do líquido. "Quanto menos lodo o tratamento gerar, melhor vai ser a operação no aterro sanitário", afirma o professor, cujo projeto conta com a participação de estudantes de iniciação científica (IC), de mestrado e de doutorado. "O tratamento do lodo não é barato. É um processo caro", acrescenta.

O professor explica que suas pesquisas conseguiram reduzir a matéria orgânica do lixiviado de aterro em até 90%, mas esse processo gerou muito lodo. "Uma tendência que estamos verificando é trabalhar com a combinação de vários processos. Pode ser que tenhamos redução da eficiência [taxa de eliminação da matéria orgânica], mas podemos com isso baixar a quantidade de lodo", explica. As possibilidades de combinação do fenton no lixiviado serão testadas ao longo deste ano.

A professora Deize Dias Lopes diz que a quantidade de lixiviado produzido por um aterro sanitário varia por diversos fatores. "Diferentemente de uma indústria, em um aterro sanitário o lixiviado varia muito em vazão conforme a época do ano e a quantidade de chuva, o local onde está instalado e a operação", diz a professora. Cada cidade produz um chorume diferente, conforme o tipo de material destinado ao aterro.

Deize Dias Lopes ressalta que a mão de obra para operar um sistema de tratamento de lixiviado é deficiente, porque se trata de um processo especializado, exigindo conhecimento e domínio de técnicas. Além disso, o líquido produzido em um aterro nem sempre é tratado no local e a produção é encaminhada para outro lugar que realiza esse processo. Isso também encarece o tratamento.

O gerente de Resíduos, Gilmar Domingues, da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), informa que terminou, em novembro passado, o contrato com a empresa de Maringá que realizava o tratamento do chorume produzido no aterro sanitário de Londrina. Em nova licitação, venceu a empresa Akavatec, que deve, segundo ele, usar uma técnica que vai baratear o custo do tratamento do chorume. "É uma empresa consorciada com a Kurica Ambiental", anota.

MODELO IDEAL

Para os professores Caio Rodrigues e Deize Dias Lopes, na destinação de resíduos sólidos, o ideal seria um modelo no qual haveria 100% de reciclagem de material descartável e realização de compostagem de material orgânico com aproveitamento energético. Assim, os aterros receberiam apenas rejeitos. Nesse modelo, a produção de lixiviado seria bem pequena, já que os materiais orgânicos e recicláveis interferem na produção do líquido.

Esse modelo está longe de ser alcançado quando se consideram os números de destinação dos resíduos sólidos no Brasil. De acordo com o estudo "A organização coletiva de catadores de material reciclável no Brasil: dilemas e potencialidades sob a ótica da economia solidária", o país produz cerca de 160 mil toneladas por dia. Desse valor, entre 30% e 40% podem ser reaproveitados e reciclados. O estudo é de 2017 e foi publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

No entanto, apenas 13% do total que pode ser reaproveitado e reciclado acaba tendo essa destinação. "(...) os benefícios econômicos auferidos com o setor poderiam ser, no mínimo, seis vezes maiores com relação ao que se tem registrado atualmente", pontua o estudo do IPEA, assinado por Sandro Pereira Silva, técnico da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (DISOC) do instituto.

LEGISLAÇÃO

A pesquisa do Departamento de Construção Civil do CCA torna-se ainda mais importante, considerando que tramita na Câmara dos Deputados, em Brasília, um projeto de lei, apresentado no começo de 2019, que torna obrigatório o tratamento de lixiviado de aterro. O projeto, se aprovado, prevê como punições as sanções estabelecidas na lei nº 9.605, de fevereiro de 1998, que trata de crimes ambientais.

Entre as punições estão desde a prestação de serviços à comunidade até pagamento de multa, suspensão da atividade que originou o problema ambiental e prisão. A lei 12.305, de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas não aborda especificamente o tratamento de lixiviado de aterro.

O gerente de Resíduos, Gilmar Domingues, da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) de Londrina, lembra que o tratamento do chorume - mesmo não estando fixado em lei federal - é determinado por resoluções de órgãos que atuam na proteção do meio ambiente, como o Conselho Nacional do Meio Ambiente e Conselho Estadual do Meio Ambiente do Paraná. "Os contratos realizados pela CMTU preveem o tratamento do chorume conforme as resoluções desses órgãos", afirma.

Agência UEL

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