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Religião 17/09/2021  08h35

A Palavra Da Cruz

Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1 Coríntios 1:17,18).

Observe bem que, no versículo 17, Paulo havia renunciado à “sabedoria de palavra”. Ele diz que foi enviado para “pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo”. Está muito claro, portanto, que há uma excelência, elegância e eloquência de linguagem que privaria o evangelho de seu devido efeito. Jamais ouvi falar que a cruz de Cristo foi ineficaz por causa da grande simplicidade de discurso, nem mesmo pela robustez da linguagem — mas é a “sabedoria de palavra” que se diz ter este poder destruidor. Ó, terrível sabedoria de palavras! Que Deus nos livre de fazermos tentativas para usá-la, pois devemos sinceramente evitar toda e qualquer coisa que possa ser tão perniciosa em sua influência quanto tornar a cruz de Cristo sem nenhum efeito. A “sabedoria de palavras” faz mal, por vezes, escondendo as verdades de Deus que deveriam ser estabelecidas da maneira mais clara possível. A doutrina da expiação através do sangue, que é a essência da palavra da cruz, é desagradável para muitas mentes e, portanto, certos pregadores tomam cuidado para não a declarar muito explicitamente. Prudentemente, como eles chamam — astuciosamente, como o apóstolo Paulo a chamaria —, eles suavizam as características desagradáveis do grande sacrifício esperando que, por meio de belas frases, possam remover um pouco o “escândalo da cruz”. Mentes orgulhosas opõem-se à substituição, que é o limite da doutrina e, portanto, são adotadas teorias que deixam de fora a ideia de colocar o pecado sobre o Salvador e torná-lo maldição por nós. O autossacrifício é apresentado como possuidor de uma alta e heroica influência pela qual somos estimulados à autossalvação, mas o sofrimento do Senhor como o Justo pelos injustos não é mencionado! A cruz, em tal caso, não é, absolutamente, a cruz pela qual pecadores autocondenados podem ser consolados e os inflexíveis podem ser subjugados, mas algo bem diferente.

Os que assim ocultam uma verdade divina indesejada imaginam fazer discípulos, enquanto estão apenas prestando homenagem à incredulidade e consolando homens em sua rejeição da propiciação divina para o pecado! Seja o que for que o pregador possa ter em seu coração, ele será culpado do sangue das almas, se ele não proclamar claramente o verdadeiro sacrifício pelo pecado. Demasiadas vezes a “sabedoria de palavras” deixa de explanar o evangelho. É possível refinar uma doutrina até que a essência dela desapareça. Você pode retirar tais belas distinções para que o verdadeiro significado seja filtrado. Alguns teólogos dizem que devem adaptar a verdade de Deus ao avanço da época, o que significa que eles devem assassiná-la e arremessar seu cadáver aos cães! É dito que a filosofia avançada do século 19 exige uma teologia progressiva para que se mantenha atualizado — o que significa dizer simplesmente que uma mentira popular deve tomar o lugar de uma verdade divina que os ofende. Sob o pretexto de ganhar os intelectos privilegiados da época, “a sabedoria de palavras” tem aos poucos nos colocado em negação desses princípios essenciais pelos quais os mártires morreram! As defesas para o evangelho, nas quais a essência dele é ocultada ao incrédulo, são piores do que a infidelidade. Odeio essa defesa do evangelho que o joga ao chão para preservá-lo da destruição. A “sabedoria de palavras”, no entanto, é mais frequentemente usada com a intenção de adornar o evangelho e fazê-lo parecer um pouco mais belo do que ele seria em sua forma natural. Eles pintam a rosa e esmaltam o lírio, adicionam brancura à neve e brilho ao Sol! Com suas desventuradas velas, eles nos ajudam a ver as estrelas! O cúmulo da maldade!

A cruz de Cristo é sublimemente simples — adorná-la é desonrá-la. Não existe nenhuma declaração debaixo do céu mais musical do que esta: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões”. Todos os sinos que se poderia tocar para torná-los mais harmoniosos só acrescentariam um tilintar à sua melodia celestial, que é, em si mesma, tão doce que encanta os harpistas diante do trono de Deus! A doutrina de que Deus desceu à Terra em natureza humana — e nessa natureza levou os nossos pecados, as nossas dores e fez expiação por nossas transgressões através da Sua morte na cruz — é, em si, poesia inigualável, a perfeição de tudo o que é enobrecedor em pensamento e credo! No entanto, a tentativa é feita para adornar o evangelho como se ele precisasse de algo para recomendá-lo à compreensão e ao coração.

O resultado é que as mentes dos homens são desviadas para longe do evangelho, seja para o pregador ou para algum assunto completamente insignificante. Os ouvintes levam para casa porções encantadoras de poesia, mas se esquecem do precioso sangue! Eles se lembram das elaboradas metáforas tão delicadamente articuladas, mas se esquecem das cinco chagas e deixam de olhar para o Senhor Jesus e serem salvos! A verdade de Deus é enterrada sob as flores! Irmãos, retiremos de nossos sermões tudo o que afasta a mente humana da cruz! Um olhar para Jesus é melhor do que o mais atento olhar para nossas preciosidades de discurso! Um dos antigos artistas descobriu que certos vasos que ele havia retratado sobre a mesa da Ceia atraíam mais atenção do que a face do Senhor, a quem ele havia pintado sentado na cabeceira da mesa da festa e, portanto, ele os retirou imediatamente. Meus irmãos, que façamos o mesmo sempre que algo em nós faça que a nossa mente se afaste de Jesus. Cristo deve estar sempre em primeiro plano, e nossos sermões devem conduzir as pessoas a Ele, ou farão mais mal do que bem. Devemos pregar Cristo crucificado e apresentá-lo como o Sol no Céu, como a única Luz dos homens!

Alguns parecem imaginar que o evangelho não contém em si mesmo força suficiente para se espalhar e, portanto, sonham que, se é para ter poder entre os homens, deve ser através da forma lógica em que ele é colocado — nesse caso toda a glória é para a lógica — ou através da bela maneira com a qual é declarado — nesse caso toda a glória é para a retórica. Há uma noção vigente de que deveríamos buscar o auxílio do prestígio, ou talento, ou novidade, ou entusiasmo, pois o evangelho em si, a doutrina da cruz, é impotente em suas mãos e aleijada dos pés. Ela deve ser sustentada pelo poder exterior e levada adiante, como por uma enfermeira, onde quer que vá. Razão, elocução, arte, música, ou alguma outra força deve apresentá-lo e apoiá-lo, ou então ele não avançará — assim alguns imaginam injuriosamente. Essa não é a noção de Paulo! Ele fala da cruz de Cristo como sendo, ela mesma, o poder de Deus e diz que deve ser pregada “não em sabedoria de palavras”, para que o poder não seja atribuído à referida sabedoria de palavras e a cruz de Cristo seja considerada como não tendo poder independente, ou, em outras palavras, ineficaz! Assim, Paulo não degradaria a cruz nem por um momento e, portanto, embora qualificado para disputar com eruditos e filósofos, desprezou o deslumbramento de argumentos e sofismas. E, embora ele pudesse falar com magistral energia — que suas epístolas sejam testemunhas disso — ainda assim, ele usou grande clareza de discurso, para que a força de seu ensinamento pudesse se apoiar na própria doutrina, e não em sua linguagem, estilo ou pregação.

Paulo tinha zelo pela honra da cruz e não a propagava através de qualquer força, mas de sua própria, como ele mesmo diz: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus” (1 Coríntios 2:4,5). Depois de limparmos nosso caminho da sabedoria de palavras, chegamos agora à palavra de sabedoria. O apóstolo pregou a cruz e nosso primeiro assunto deve ser a palavra da cruz. Muitos dão à cruz uma má reputação e por isso o nosso segundo ponto deve ser a palavra daqueles que a desprezam — eles a chamam de loucura. E então, em terceiro, pensaremos na palavra aplicada à cruz por aqueles que nela creem — ela é para eles “o poder de Deus”. Que o Espírito Santo possa usá-la como o poder de Deus a todos nós hoje!

Trecho de Sermões de Spurgeon sobre a Cruz de Cristo, de Publicações Pão Diário.

Pão Diário

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Lana Carvalho/Asimp

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