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Amar a Deus sobre todas as coisas é o primeiro mandamento da Lei de Deus

Chegamos ao primeiro e maior de todos os mandamentos de Deus. Caso não se recorde, nos textos anteriores, mencionamos que eles estão em ordem, do maior ao menor. Fizemos todo um caminho até aqui, começando nos mandamentos que tratam do nosso relacionamento com o próximo, para que, ao chegarmos aos três primeiros, que são os que se referem diretamente a Deus, fosse possível assimilarmos o caminho espiritual contido neles.

“Mando-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes em seus caminhos, observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos, para que vivas e te multipliques, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe na terra em que vais entrar para possuí-la.” (Deuteronômio 30,16)

Moisés insistiu que se devesse meditar sobre as leis e os mandamentos do Senhor. Aparentemente, ele simplificou o mandamento por causa da rudeza do povo que o seguia. Mas se ficou claro tudo o que foi explicado sobre a fé nos textos anteriores, este mandamento, pelo menos para nós, torna-se mais claro: esse amor crescente, por meio da fé, faz essa união com Deus.

Depois da união da Santíssima Trindade, não há nada que se possa unir mais perfeitamente em todo o universo do que a fé e a caridade. (Santo Inácio de Antioquia – sec I). O primeiro mandamento é a própria união com o Cristo. “Eu lhes fiz conhecer o Teu Nome, e o farei conhecer ainda, para que o amor com que me amaste esteja neles, e Eu mesmo esteja neles” (Jo 17,26). Jesus, nessa oração, diz da união que ele deseja que as pessoas tenham com Ele, assim como Ele estava unido com o Pai.

Na mesma oração, um pouco antes, (Jo 15, 1-12), Ele pede que permaneçamos no Seu Amor, pois quem permanecer n’Ele produz muitos frutos, e sem Ele nada poderemos fazer. Nosso Senhor vai alimentando a nossa alma, para produzir frutos de santidade por meio da nossa permanência na fidelidade aos Seus mandamentos.

“Respondeu-lhe Jesus: ‘Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada'” (Jo 14,23). Isso é a santidade. Assim foi como viveram os santos. Ser a morada da Santíssima Trindade é ser capaz de virtudes heroicas, conversas com o Senhor assim como a um outro, milagres, prodígios. Para isso, no entanto, devemos dar tempo a Deus, para nos aproximarmos d’Ele e Ele de nós.

Santa Tereza D’ávila explicou a estrutura da alma humana, contendo sete moradas (livro O Castelo Interior). Trata-se do caminho espiritual de todo cristão. A primeira morada é a mais acessível. É simples entrar nela, mas para avançar pelas demais é preciso percorrer um caminho que passa pela porta estreita e por cultivar uma vida de oração.

São Pedro de Alcântara (foi o orientador de Santa Tereza por algum tempo), falando sobre a oração, diz que chegaríamos tranquilamente à quinta morada do castelo interior, que trata da união com Deus, se crescêssemos numa vida de oração a ponto de, todos os dias, rezarmos durante duas horas de pura devoção, que seria um profundo recolhimento, procurando perceber a presença de Deus diante de si, unindo a fé com a caridade.

Não se trata de contabilizar esse tempo de oração com a Santa Missa, ou estudo da Palavra, o Santo Terço. Muito menos significa trabalho apostólico, mas sim oração de união de coração com devoção à Cristo, de amor. Claro que isso se dá numa crescente, mas para começar é preciso deixar de perder tempo com coisas inúteis, e ter nesse momento, o refrigério de que precisamos todos os dias. O Senhor nos espera e quer a nossa santificação.

Lembrando que o primeiro passo é estar em estado de graça (não ter cometido pecados graves após a última confissão) e pedir a graça da fé. Receber Nosso Senhor na Eucaristia e ter aqueles 10 minutos de adoração à presença real em nosso íntimo. Essa é a maior das escolas de oração de devoção. Ter vida de meditação nas sagradas escrituras, estudar a doutrina, a vida dos santos, e ir crescendo em intimidade com o Senhor. Tudo isso já tratamos nos textos anteriores da nossa série da confissão.

Na suma teológica, São Tomás se pergunta se, por acaso, a caridade e o amor não significaria um querer bem.
Ele mesmo responde que não seria isso. É possível querer bem mesmo àqueles que não se ama. O amor normalmente nasce na pessoa, quando se tem um conhecimento íntimo daquele que se ama. É sempre por uma experiência mais profunda, mais sólida, mais precisa. O amor supõe o conhecimento íntimo da pessoa que se ama. É desse mesmo conhecimento íntimo que surge o amor para com Deus. O efeito do amor não é somente querer o bem, mesmo que seja sincero, mas sim desejar profundamente se unir à pessoa amada. O ato próprio do amor é a união.

É por isso que chamamos o encontro da  com a caridade de união com Cristo, porque pela fé vivida, nesse nível do segundo mandamento, do nome de Deus, já se tem um conhecimento íntimo da pessoa. Jesus já não é um homem que viveu a dois mil anos atrás, mas sim uma experiência vivida hoje! Em cima dessa intimidade, surge o desejo profundo de se unir a ele, que é a caridade. A fé trás o conhecimento íntimo, mas o amor traz o seu efeito próprio, que é unir-se à pessoa amada. É por isso que um homem que se apaixona por uma mulher e a conhece profundamente quer se casar com ela e vice-versa. Os dois passam a desejar ser uma só carne. Antes desse nível, o desejo de ser uma só carne não é amor, mas um desejo erótico somente.

Para se chegar a isso, portanto, é preciso ter praticado primeiro a fé santificando o Nome de Deus, impulsionado pela vontade que move o intelecto, fazendo com que surja esse desejo de unir-se intimamente com Ele. A união da fé com a caridade produz a união com Cristo.

Tudo isso já é vivido integralmente na comunhão eucarística, desde a primeira vez. Logicamente, estando longe dos pecados graves após a confissão sacramental por somente uns 10 minutos. O caminho é ir aprofundando cada vez mais essa experiência nos demais momentos do dia a dia, com uma vida de oração constante e recolhimento diário crescente, visando chegar, pelo menos, por duas horas de recolhimento. Não acabou nossa meditação sobre o primeiro mandamento. Semana que vem tem mais!

Roger de Carvalho, natural de Brasília – DF, é membro da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Casado com Elisangela Brene e pai de dois filhos. É estudante de Teologia e Filosofia.
Autor do blog “Ad Veritaten“.

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