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Antigamente, a Quaresma era o período durante o qual – por meio da penitência e da provação – os catecúmenos*  preparavam-se para receber o batismo na noite de Páscoa. A Liturgia sempre coloca Jesus no Evangelho do Primeiro Domingo da Quaresma vencendo as tentações do demônio (cf. Mt 4,1-11). O Nosso Senhor e Mestre não só vence como também nos dá as dicas para vencermos o nosso inimigo e as tentações pequenas e grandes que enfrentamos todos os dias.

O objetivo desta reflexão de hoje será avaliar a nossa defesa e aumentar as nossas resistências diante das tentações e celebrar a vitória com o Senhor Jesus.

A Quaresma é um tempo privilegiado para voltarmos ao Senhor

O Senhor derrotou o maligno, por meio da docilidade ao Espírito Santo, pois, “no deserto, Ele era guiado pelo Espírito”. Da Palavra: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem’”. Da Oração: “Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus”. Do Jejum: “Não comeu nada naqueles dias e, depois disso, sentiu fome”. Pela Adoração: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás”. Exercendo Sua autoridade, que vinha de uma vida coerente e santa. Isso fica bem claro na leitura deste Evangelho.

De maneira semelhante, como o antigo povo de Israel partiu durante 40 anos pelo deserto para ingressar na Terra Prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante 40 dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste nem depressivo. Trata-se de um período especial de purificação e renovação da vida cristã, para que possamos participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.

Jesus Cristo, ao dar início à caminhada do novo povo de Deus, dirige-se ao deserto como lugar de encontro com o Pai, lugar de recolhimento, onde Ele se revela, onde escuta Sua Palavra. Diferente do antigo povo da Aliança, que sucumbe à tentação, revolta-se, tem saudade “das cebolas do Egito”, onde eles tinham o que comer, mas eram escravos, o Senhor vence a tentação, vence o demônio pela oração, pelo jejum, pela Palavra e obediência ao Pai.

Tempo de intensificar seu caminho de conversão

A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Esse caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao “homem velho” que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nosso coração, afastar-nos de tudo aquilo que nos separa do plano de Deus, e, por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.

No pórtico da Quaresma, encontramos Jesus tentado pelo diabo. A Bíblia tem vários nomes para esse personagem, mas em todos subjaz a mesma incumbência da sua missão: o que separa, o que arranca; diabo, dia-bolus: o que divide. O demônio – no meio do mundo que o ignora e o torna frívolo – está mais presente do que nunca: nos medos, nos dramas, nas mentiras e nos vazios do homem pós-moderno, aparentemente descontraído, brincalhão e divertido.

Com Jesus, como com todos nós, o diabo procurará fazer uma única tentação, ainda que com diversos matizes: romper a comunhão com Deus Pai. Para este fim, todos os meios serão aptos, desde citar a própria Bíblia até fantasiar-se de anjo da luz. As três tentações de Jesus são um exemplo muito atual: da sua fome, converta as pedras em pão; das suas aspirações, torne-se dono de tudo; da sua condição de filho de Deus, coloque a sua proteção à prova. Em outras palavras: o dia-bolus buscará conduzir o Senhor por um caminho no qual Deus ou é tido como banal e supérfluo ou como inútil e nocivo.

Prescindir de Deus, porque reduzimos nossas necessidades a um pão que nós mesmos podemos fabricar, como se fosse nossa própria mágica (1ª tentação). Prescindir de Deus modificando Seu plano sobre nós, incluindo aspirações de domínio que não têm a ver com a missão que Ele confiou a nós (2ª tentação). Prescindir de Deus banalizando Sua providência, fazendo dela um capricho ou uma diversão (3ª tentação).

Isso torna-se atual, se formos traduzindo com nomes e cores quais são as tentações reais (!) que nos separam – cada um de nós e todos juntos – de Deus e, portanto, dos outros também. A tentação do “deus-ter” (em todas as suas manifestações de preocupação pelo dinheiro, pela acumulação de bens, pelas “devoções” a loterias e jogos, pelo consumismo). A tentação do “deus-poder” (com todo o leque de pretensões de ascensão, que confundem o serviço aos demais com o servir-se dos demais, para os próprios interesses e controles). A tentação do “deus-prazer” (com tantas, tão infelizes e, sobretudo, tão desumanizadoras formas de praticar o hedonismo, tentando censurar inutilmente nossa limitação e finitude).

Quem duvida de que existem mil diabos, que nos encantam e seduzem a partir da chantagem das suas condições e, apresentando-nos tudo como fácil e atrativo, e que nos separam de Deus, dos demais e de nós mesmos?

Jesus venceu o diabo! A Quaresma é um tempo privilegiado para voltarmos ao Senhor, unindo novamente tudo o que o tentador separou. Jejuando 40 dias no deserto, Cristo consagrou a abstinência quaresmal. Desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade. Celebrando agora o mistério pascal, nós nos preparamos para a Páscoa definitiva (Prefácio do 1° Domingo da Quaresma).

Oremos: “Ó Deus, que nos alimentastes com este pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, pão vivo e verdadeiro, e viver de toda Palavra que sai de vossa boca para vencer ao pecado, a nós mesmos e ao diabo. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém.”

Minha bênção fraterna.

Padre Luizinho, natural de Feira de Santana (BA), é sacerdote na Comunidade Canção Nova. Ordenado em 22 de dezembro de 2000, cujo lema sacerdotal é “Tudo posso naquele que me dá força”. Twitter: http://@peluizinho

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