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Muitos cristãos são devotos de São José e o apreciam como exemplo de homem santo e defensor da Sagrada Família. Mas será que esse amor a São José não é superficial? O evangelista Mateus nos ajuda a compreender melhor a relevância de São José, e o projeto teológico-catequético no qual o pai de Jesus está inserido.

O Evangelho de Mateus foi escrito por volta do ano 85, quando a comunidade cristã estava vivendo uma crise de fé. Muitos cristãos provinham do judaísmo, e estes estavam receosos de abandonar a fé tradicional e aderir ao seguimento de Jesus. Com o intuito de ajudá-los, Mateus escreveu seu Evangelho, uma espécie de resumo da proposta cristã para quem deseja se tornar um autêntico discípulo de Jesus.

Para ele, o discipulado cristão resume-se em “ouvir a Palavra de Deus e colocá-la em prática” (Mt 7,24). Deve-se superar a centralidade da letra, não viver uma prática exterior e exibicionista como alguns fariseus, mas atingir o espírito da Lei, a vontade do Pai.

É nesse horizonte de Mateus que José é colocado como exemplo de discípulo fidedigno, modelo de verdadeiro discípulo. Além de fazer o elo entre Jesus e a linhagem de Davi, José se reveste de todas as virtudes, tornando-se um discípulo do Reino por antecipação.

José é referido como “justo” (Mt 1,19). No sentido mais amplo, justo é quem se pauta pela vontade divina e encontra nela o rumo de sua existência. O querer e o agir do justo estão sempre voltados para Deus. Tudo quanto faz é expressão de sua fidelidade a Deus.

José descobre a vontade de Deus mesmo em meio às dúvidas e incertezas, porém, sem abrir mão da disposição de, em tudo, ser fiel a Ele. Assim, ser justo, no caso de José, significa ser discípulo exemplar, todo centrado em Deus.

Em José, temos a postura do ser humano em processo de escuta aos apelos de Deus. E, sem rebater e justificar-se, dispõe-se inteiramente a acolher e estar disponível nas mãos de Deus. Por isso, quem quer seguir o Senhor deve colocar-se com docilidade e liberdade à escuta d’Ele. Nenhuma outra ação se insere entre a ordem divina e a sua execução, pois se passa da escuta da Palavra à sua imediata realização.

O Anjo do Senhor chama José de “Filho de Davi” (Mt 1,20b). José está inserido no âmbito do povo eleito, retratando o primeiro israelita a se tornar discípulo do Messias Jesus. Ele abre o caminho para as futuras gerações que haveriam de acolher a Palavra e praticá-la. Daí, nasce o verdadeiro Israel, formado por quem abraçou o Reino anunciado por Jesus.

José é modelo de discípulo para toda a comunidade cristã. Ainda hoje, continua sendo exemplo para toda a Igreja. Não basta somente apreciá-lo, é preciso seguir seus passos. A postura de escuta e a prática da vontade de Deus mostram a verdadeira devoção que se deve ter a São José, para que, como ele, nos tornemos discípulos de Cristo.

Para aprofundar esse tema sugiro o artigo científico: “O discipulado cristão segundo Mateus – A figura de José (Mt 1,18-25)”, do padre jesuíta Jaldemir Vitório, que foi a base deste texto. Ele diz que a experiência do justo José consistiu em arriscar tudo por causa de Jesus. Assim, José se torna prefiguração dos “justos” do Novo Testamento, que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática. Homem do silêncio, da obediência silenciosa, como afirma o Papa Francisco.

São José, valei-nos!

Ricardo Cordeiro é seminarista da Comunidade Canção Nova.

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