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Pesquisa inédita do Ministério da Saúde e IBGE sobre o perfil da saúde da população revela ainda que mais de 51% dos fumantes tentou abandonar o cigarro nos últimos 12 meses

O hábito de fumar tem cada vez menos adeptos no Brasil. Pesquisa inédita do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o índice de pessoas que consomem cigarros e outros produtos derivados do tabaco é 20,5% menor que o registrado cinco anos atrás. Do total de adultos entrevistados, 14,7% disseram que fumam atualmente. Esse índice era 18,5% em 2008, conforme a Pesquisa Especial de Tabagismo do IBGE (PETab).

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) apresentada nesta quarta-feira (10) revela que os homens são os que mais usam produtos do tabaco. Entre a população masculina 19,2% fumam contra 11,2% das mulheres. A faixa etária com maior prevalência é de 40 a 59 anos, com 19,4%, enquanto os jovens de 18 a 24 anos apresentaram a menor taxa, de 10,7%.

O uso regular do tabaco é maior ainda em pessoas com menor escolaridade. A prevalência naqueles com nível fundamental incompleto é de 20,2%. Já para a população que possui o ensino superior completo é de 8,8%. Preocupa ainda o alto percentual no Sul, cujos três estados lideram o índice de usuários de tabaco e derivados. Paraná registra 18,1% de fumantes, seguido por Santa Catarina (16%) e Rio Grande do Sul (14,2%).

A PNS contabiliza 63 mil entrevistados a partir de 18 anos. É o maior e mais detalhados estudo já realizado sobre a situação de saúde do brasileiro e o estilo de vida. Pela primeira vez, foi coletado sangue, aferida a pressão e as pessoas pesadas. Os dados divulgados nesta quarta-feira (10) são resultados dos questionários aplicados nos domicílios visitados. A análise dos exames será anunciada em 2015.

Abandono do cigarro

A queda do número de fumantes no Brasil é confirmada pelo índice de pessoas que disseram ter fumado no passado, 17,5%. Se os homens são os que mais fumam, são também eles que mais abandonam o vício. Enquanto 21,2% da população masculina entrevistada deixou o consumo de tabaco e derivados, entre as mulheres esse índice foi de 14,1%. Quanto maior a idade, maior o percentual de ex-fumantes: 31% das pessoas com 60 anos ou mais pararam de fumar.

A vontade de parar de fumar atinge ainda mais pessoas. Do total de entrevistados que fumam ou já fumou, 51,1% disseram ter tentado largar o hábito nos últimos 12 meses. Nesse caso, foram as mulheres que mais tentaram deixar o cigarro, atingindo 55,9%, contra 47,9% dos homens.

Outro aspecto positivo foi que 73,1% das pessoas que tentaram parar de fumar conseguiram tratamento, um aumento importante em relação a 2008, quando o índice era de 58,8%. Esse avanço é resultado da universalização do acesso aos medicamentos para tratamento do tabaco na rede pública de saúde. O Ministério da Saúde expandiu a oferta de medicamentos e assistência profissional aqueles que desejam parar de fumar.

Atualmente, estão preparadas para atender a esse público 23.387 equipes de Saúde da Família que atuam em 4.375 municípios. Também são ofertados gratuitamente medicamentos, como adesivos, pastilhas, gomas de mascar e o bupropiona. O Ministério da Saúde destinou R$ 41 milhões para compra dos produtos, o que permitiu tratar 45 mil tabagistas só neste ano.

Lei Antifumo

Também foi analisado pela PNS o índice de pessoas que não fumam, mas estão expostas à fumaça dentro de casa: 10,7% da população. Neste caso, os jovens de 18 a 24 anos são os mais atingidos. No trabalho, o percentual de pessoas que estão sujeitas ao fumo passivo é ainda maior, de 13,5%.

Entre as recentes conquistas no Brasil destaca-se a Lei Antifumo, decreto da presidenta Dilma Rousseff que entrou em vigor em dezembro deste ano. A nova legislação torna os ambientes fechados de uso coletivo 100% livres de tabaco, protegendo a população do fumo passivo e contribuindo para diminuição do tabagismo entre os brasileiros. Em dezembro deste ano, o Ministério da Saúde publicou ainda regras para proteger os trabalhadores expostos ao fumo.

As mudanças da legislação brasileira nos últimos anos, como a proibição de propaganda de marcas de cigarro e inclusão de imagens nos maços alertando os malefícios para a saúde, impactaram positivamente no hábito de fumar. A pesquisa aponta que 52,3% dos fumantes pensaram em parar de fumar devido a estas advertências.

O cigarro é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano no Brasil e a Organização Mundial de Saúde reconhece o tabagismo como uma doença epidêmica. A dependência da nicotina expõe os fumantes continuamente a mais de quatro mil substâncias tóxicas, que são fatores de risco para aproximadamente 50 doenças, principalmente as respiratórias e cardiovasculares, além de vários tipos de câncer como o de pulmão e brônquios. O fumo responde hoje por 90% dos casos de câncer de pulmão e 25% das doenças vasculares, como infarto.

Estilo de vida

Além da redução do consumo de cigarro, a Pesquisa Nacional de Saúde apontou outros hábitos que revelam que o brasileiro busca por um estilo de vida mais saudável. Do total de entrevistados, 22,5% praticam o nível recomentado de atividade física semanal (150 minutos de intensidade leve e moderada ou 75 minutos de atividade intensa).

Os homens (27,1%) se exercitam mais que as mulheres (18,4%). Quanto maior a idade, menor a frequência das atividades físicas. O índice de jovens de 18 a 24 anos que praticam exercícios, 35,3%, é mais que o dobro do percentual entre pessoas com 60 anos ou mais, 13,6%.

Quando o assunto é alimentação, o estudo mostra que 37,3% da população consomem cinco porções diárias de frutas e hortaliças. As mulheres saem na frente nessa avaliação, com 39,4%, enquanto entre os homens o índice cai para 34,8%. Nas pessoas com 60 anos ou mais, o consumo é maior, de 40,1%, chamando atenção para o baixo índice entre os jovens de 18 a 24 anos, 33,7%. O percentual é maior também entre as pessoas com maior escolaridade.

A pesquisa mostrou que o consumo regular de feijão em cinco ou mais dias na semana é de 71,9%. Neste item, o percentual foi menor entre as pessoas com nível superior completo (54,9%) e maior com ensino fundamental incompleto (77,3%).

Apesar de esses dados apontarem para um estilo de vida mais saudável, preocupam os percentuais de consumo de gorduras, doces e álcool. O consumo de leite integral, mais gorduroso, faz parte da rotina de 60,6% dos brasileiros. Já a proporção de pessoas que consomem carne ou frango com excesso de gordura foi de 37,2%, subindo para 47,2% entre os homens e caindo para 28,3% no público feminino. Quanto maior o nível de escolaridade, menor o consumo desses alimentos.

Mais de 23% da população faz uso de refrigerantes ou sucos artificiais cinco vezes ou mais na semana e 21,7% relatam o consumo regular de alimentos doces, como bolos, chocolates, balas e biscoitos. No Brasil, o consumo desses produtos diminuiu com o avanço da idade. Pessoas com 60 anos ou mais comem em menor quantidade os doces, 17,2%. Já entre jovens de 18 a 24 anos o índice chega a 32%. E quanto maior o nível de escolaridade maior é o consumo. Pessoas com superior completo atingem 27,4%, enquanto pessoas com fundamental incompleto comem menos, 16,7%.

Para incentivar a prática de hábitos saudáveis na população, o Ministério da Saúde lançou, no segundo semestre desse ano, o Guia Alimentar para População Brasileira, que traz os cuidados e caminhos para alcançar uma alimentação saudável. A edição do guia indica que a alimentação tenha como base alimentos frescos (frutas, carnes, legumes) e minimamente processados (arroz, feijão e frutas secas), além de evitar produtos ultraprocessados (como macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes).

O consumo de álcool também registrou um índice preocupante, 24% da população consome bebida alcóolica uma vez ou mais na semana, subindo para 36,3% entre os homens, quase o triplo do índice entre as mulheres, de 13%. Conforme cresce a escolaridade, o índice aumenta. As pessoas com nível superior completo consomem bem mais (30,5%) se comparado com quem tem fundamental incompleto, 19%.

Do total de entrevistados, 4,4% da população dirigiram após consumir bebida alcoólica, aumentando o risco de acidente de trânsito. Se considerarmos somente a parcela que dirige, o índice chega a 24,3% dos entrevistados. Apesar do percentual alto, esse é um hábito que vem caindo desde o início da Lei Seca, cujo endurecimento reduziu a zero o consumo de álcool para quem vai dirigir. Levantamento do Ministério da Saúde, Vigitel, indica redução de 47,5% no número de homens que bebem abusivamente e dirigem, passando de 4% para 2,1% entre 2007 e 2013.

Vera Stumm/Agência Saúde

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