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“Estou muito estressada com o EAD, as vezes parece que vou enlouquecer”, a frase é da aluna Clara B. da Silva, 16 anos, que mora no distrito da Warta e cursa o 2º ano do ensino médio. Ela, assim como vários estudantes, garante que está complicado acompanhar as aulas remotas e mais difícil ainda para entregar as centenas de atividades encaminhadas diariamente pela Secretaria Estadual de Educação (SEED).

Nesta semana, a SEED publicou uma nota no site oficial do governo afirmando que as tele aulas têm sido consideradas um verdadeiro sucesso, mas ao ouvir os estudantes, as avaliações são bem diferentes. As reclamações são inúmeras e vão desde a dificuldade de acesso às plataformas de transmissão; o excesso de atividades; conteúdos difíceis; falta de equipamentos, ausência de orientação dos professores; complicação nas ferramentas para se encaminhar as tarefas, entre outras.

A aluna Clara disse ainda que se sente angustiada e pressionada com as aulas on line. “Estou com problemas de ansiedade porque eu não estou conseguindo entender nada. Eles falam que quem não fizer as atividades ficará com faltas e poderá ser reprovado, isso dá um pânico e medo na gente”, declarou a aluna.

Já o estudante Rafael Pereira F. de Carvalho, 16 anos, disse que tem acesso às plataformas mas não consegue acompanhar as aulas porque elas ocorrem no horário do seu trabalho, mesmo assim, ele tem tentado entregar as tarefas. Ele critica as plataformas usadas pelo governo. “Os formulários são incompletos para as respostas, são mal programados e dificultam a realização das atividades. Está sendo uma péssima experiência”, declarou.

Se a pressão das aulas remotas é grande para aqueles que, mesmo com dificuldades, têm conseguido acessar, imaginem para os alunos que não tem estrutura para acompanhar os conteúdos. Este é o caso da Beatriz Garcia Lima, 16 anos, de Rolândia. “Eu não tenho internet em casa e  pelo celular fica complicado acessar porque é muita coisa para assistir, tenho de usar os dados móveis e fica muito caro. Além disso tenho de trabalhar para ajudar em casa, estou triste porque acho que vou reprovar de ano”, disse.

Saúde mental em risco

A secretária educacional da APP/Londrina e professora de  sociologia, Sandra Regina da Rocha, tem feito vídeo conferências com os alunos e tem percebido as angustias enfrentadas pelos estudantes. Para ela, em tempos de pandemia, é preciso cuidar da saúde mental dos alunos e não pressioná-los com tantas atividades. “Eles não estão dando conta, são muitas dúvidas, falta recursos, equipamentos para acompanhar as aulas. É desesperador ver o sofrimento dos estudantes. O que a SEED está fazendo é uma violência contra os alunos”, disse.

A psicóloga e mestre em saúde mental de estudantes universitários, Isadora Nicastro, lembra que os jovens tem necessidade de serem completos e isso já vem do período de adolescência. Com o isolamento social esta cobrança aumenta, mas tem sido piorada com a pressão causada pelo EAD. “A pergunta que devemos fazer é: porque está havendo esta pressão exagerada para ter esses alunos estudando tanto, de madrugada e nos fins de semana? A adolescência é um momento de formação entre a infância e fase adulta, onde as dificuldades geradas agora podem ser carregadas para a vida toda causando problemas de depressão, ansiedade e inseguranças nas relações de trabalho e familiares” explicou a psicóloga.

Já o psicólogo e coordenador da Comissão de Psicologia e Educação de Curitiba do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Pedro Braga Carneiro diz que é preocupante essa responsabilização excessiva dos estudantes na aquisição do conhecimento dos conteúdos. “Temos visto um cenário  propicio para o estress, ansiedade e angustia em relação ao processo de ensino e aprendizagem. Este processo quando deixa de ser construído ao vivo, na escola, com docentes e com toda a comunidade educativa, responsabilizando a criança e o adolescente pelo aprendizado, pode causar uma sensação muito grande sobrecarga, frustração e esgotamento”.

Na opinião de Carneiro, neste tempo de pandemia, a escola deveria suspender a preocupação conteudista e deixar para refletir no futuro sobre as possibilidades de retomada deste processo. “A escola tem de tentar manter sua função socializadora, reflexiva e critica. Proporcionar de alguma forma, o contado com os estudantes e deles entre si, sendo um ponto de apoio na rotina, mas não com esta cobrança de conteúdo e resultados que não ajudam em nada neste momento”, finalizou.

Elsa Caldeira/Asimp

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